Onze maneiras de manter o corpo em movimento e a cabeça semi-funcionando

Talvez você, no aconchego do seu lar, já tenha se perguntado: “Afinal, onde eu gasto o meu dinheiro?”.  Se você, meu amigo, lê esse blog desde 2007 (são uns três rapazes e uma moça), sabe que eu tenho o meu lugar de fala e ele se chama “Serasa”. Eu, tecnicamente, tenho um emprego, não ganho mal, mas não consigo pagar nada e muito menos, comprar aquela bolsa usada da Prada feita com couro de crocodilo ou até mesmo aquela água com gás francesa de sete reais (no atacado). 


Percebi, para grande surpresa de todos os gerentes de todos os bancos em que possuo contas, uns sete, que o gargalo das minhas finanças está no meu uso indiscriminado do Uber e do iFood. O que eu posso fazer se o metrô fica a um quilômetro e meio da minha casa? (“Nossa, Taísa, quantas pessoas têm o privilégio de morar próximo ao metrô. Você não tem vergonha nessa cara?) E, para piorar, meu prédio fica em uma subida que fortalece as panturrilhas até de quem não queria fortalecer parte do corpo nenhuma? Querem que eu retome a minha carreira de modelo agora?


Até me matriculei em uma academia após a segunda dose da vacina. Fui três vezes, empolgadíssima. Pensava, “nossa, para quem doarei tanta serotonina e endorfina?”, mas então, me machuquei (por colocar pesos irreais nas máquinas) e parei de ir. Quando passei novamente a andar na postura “ereta” e a erguer os braços sem urrar de dor, pensei, agora vou voltar. Tudo certo para eu voltar, roupinha fluorescente de malhar separada, garrafa de água e jogo de PFF2, tudo ali, no grau. O destino, no entanto, me impediu. Durante uma rara chuva na cidade, sem guarda-chuva, corri para pegar o metrô e ao chegar na porta resvalei (mentira que o certo não é “resbalei”?). Caí, estatelada. Primeiro as minhas lindas pernas voaram para o alto, em seguida, cai com meu admirável cóccix na pedra e em seguida bati a cabeça no chão. Isso na Faria Lima, um lugar tecnicamente chique, acredito, ou me disseram.


Segurando diversos livros e sacolas, decidi desistir. Fiquei deitada, chuva grossa caindo em mim. Pensei se valeria a pena seguir vivendo. Notei que policiais e diversos marmanjos me observavam. “Estou linda, né, caras?”


Isso até que uma senhora, assim como eu, cheia de sacolas de plástico, obesa, com seus 70 anos, resolveu me ajudar a sair da crise existencial na qual me encontrava, no chão da entrada do tão estimado metrô da linha amarela. Ela já aproveitou para xingar a todos a minha volta, não poupou a ninguém: os parados, os policiais, o governador, o presidente e alguma entidade misteriosa com a qual já havia conversado: “Eu falei que algum dia alguém iria se machucar aqui”, disse ela tentando levantar uma gigantesca paranaense do solo. Ela derrubou as suas sacolas em mim, fiquei um tanto mais pesada, mas como toda mulher brasileira, ela conseguiu. Quando eu já estava de pé, surgiu um rapaz para pegar os meus 16 cartões de crédito, que voaram da minha bolsa na queda. A senhora então olhou no fundo dos meus olhos, com a maior seriedade que a sua máscara no queixo permitia e perguntou: “Você está bem?”


Vejam, essa pergunta é muito ampla, atende a diversas ramificações do cotidiano, mas entendi que ela falava do tombo. Falei que sim, mas com a certeza de que havia quebrado o cóccix e de estar encharcada e tremendo de frio. Um dos efeitos colaterais dos 26 remédios que eu tomo é extrema sensibilidade ao frio. Meu cérebro entra no modo tela azul do Windows diante do frio, porém, de alguma maneira, cheguei em casa, andando um quilômetro após descer do metrô mais próximo e ainda descer a ladeira na enxurrada. O porteiro disse que eu deveria pegar o elevador de serviço “para não molhar, sabe?”. 


Essa, contudo, nem foi a maior humilhação que passei nos últimos meses. Em algum momento entre a postagem anterior e essa, adotei dois gatos, pois sou muito sozinha etc. Daí que a ONG que me forneceu o Boris e a Masha (aqui é leste europeu, porra! Mentira, já sou a terceira geração de ucranianos nascidos no Brasil. Ucranianos, sim, risos) me fez assinar diversos contratos, verificaram a minha casa e me deram várias tarefas, como vacinar com o inoculante X e etc. Pois bem, achei uma clínica especializada só em gatos e para lá me dirigi, de Uber, com os gatos na caixa de transporte. Antes de ir, liguei e fiz o clássico questionamento: “Moço, quanto que é? Vocês parcelam?”, ele falou que sim e assim fui sem medo. Chegando lá fomos tratados (eu, Boris e Masha) como a mais pura realeza Romanov (antes da revolução) e ao final do atendimento me dirigi ao caixa. “Vou pagar no cartão”, disse. Ao que a secretária respondeu, “não aceitamos cartão, mas você pode fazer um PIX”. 


Eu ali, ao vivo, não era uma ligação de telefone do Itaú, sem nem um real na conta (em nenhuma conta), já completamente rosa, falei: “Mas no telefone vocês disseram que parcelavam!”. E ela gentilmente me explicou que o parcelamento era feito através de um carnê da clínica. Meu deus, quem não aceita cartão na maior capital do país? Estamos no interior do Paraná novamente? Na hora me ocorreu ligar para a minha irmã, que iria me matar, pois devo milhões só para ela. Fora que já possuo quatro animais em Santa Catarina, que estão com o avô (meu pai). No fim, decidi ir com a mais pura verdade. “Moça, eu não tenho dinheiro nenhum, só o cartão de crédito. E agora?”


Ela me explicou sorridente que não havia problema e que iria me dar uma nota, eu poderia pagar o valor quando pudesse (na próxima encarnação, será?). Apesar de ser um grande fiasco financeiro, nunca tinha recebido uma nota em papel a ser paga. Ainda bem que os gatos vieram castrados, com metade da vacinação em dia. Agora só falta a da Raiva (para os gatos, não para mim) que parece que o governo estadual fornece. Será que algum dia terei alguma estabilidade, em qualquer âmbito da minha vida? 


Para saber mais, acesse esse humilde blog (e também faça um PIX como agradecimento: meu sobrenome arroba gmail ponto com). Também aceito cartões presente da Uber e iFood. No mais, seria legal fazer amigos.


Como tomar as rédeas de sua vida e assim se tornar a Taylor Swift do seu bairro

O Brasil é o fundo do poço e até aí nenhuma novidade. Contudo, é o meu fundo do poço. E hoje faremos uma pausa das desgraças coletivas e focaremos em um só indivíduo: eu. Após muito jurar que nunca mais trabalharia com jornalismo, adivinha o que eu estou fazendo?  Tenho sido feliz profissionalmente, principalmente porque agora todas as famosas possuem suas próprias contas de Instagram e quatro assessoras de imprensa, o que deu uma facilitada no nobre ofício de cobrir celebridades. Resumindo a missa: continuo amando ver o meu nome impresso em uma revista, por mais que ninguém leia e meu pai prefira a publicação da concorrência. "Quando você irá voltar a trabalhar na revista X?" Ao que eu respondo que gosto muito de trabalhar na revista Y.

O problema está no simples fato de que toda a revista que eu trabalho acaba fechando. Vamos torcer para que agora não seja o caso. Será que que carrego uma profecia à la Harry Potter? Imagina eu e o Voldemort lutando pela última banca de jornal? Na real, na real mesmo, eu aceito o que vier. Aprendi com anos de muito sofrimento que eu aguento qualquer porrada na cara e saio pedindo mais. O presidente quer matar todos os habitantes do país? Ótimo, tirando os 27 ataques de pânico, mal me abalei. (Essa frase contém suprema ironia, caso alguma alma sensível não a tenha captado, mas pode me "cancelar" também, já que nunca recebi aprovação alheia e, na boa, estou cansada)

Sabe o que realmente me deixa entristecida. Peraí que vou subir aqui no caixote de madeira na Praça da Sé, no centro de São Paulo, para fazer um discurso (de máscara): "Eu fico muito entristecida com os homens héteros que povoaram a minha vida durante essa pandemia."

Um era um completo sociopata que me mandou, atenção para o que vem a seguir, plantar repolhos no interior do Paraná, fora outras agressões verbais e ameaças bem bacanas que decidi não levar às cortes pois se eu tenho medo de algo, é de gente rica com poder de desgraçar a sua vida. Já o outro, apenas um filho de uma puta convencional, o tradicional esquerdo-macho-poliamor. No entanto, eu me apaixonei, ui, olhava para a cara de idiota do rapaz e ficava com aquela cara de besta que não fazia há anos. Achava que tínhamos algo em comum até que no quarto encontro recebo a seguinte mensagem: "E se fossemos só bons amigos?" (Pausa para a Taísa ter uma síncope e passar seis horas meditando)

Como sou muito inteligente, formada nas melhores escolas do planeta (aquelas), decidi dar uma segunda chance e uma terceira e uma quarta ao rapaz. Minha amiga Larissa só observando, afinal, o que ela poderia fazer? Na quarta chance ele veio com um papo muito estranho de, pausa para ler a próxima frase com compaixão (por mim), "eu não acredito em namoro", dita no meio da minha cozinha após passar a noite comigo, tomando o café que eu passei no meu coador e despejei na minha térmica e ofereci na minha xícara. Sabe o que eu fiz depois dessa? Ah, mas vocês não vão acreditar. Eu peguei e dei uma quinta chance para o cara. Contudo, estabelecida a data para o encontro, estava exausta, derrotada pela vida, ao que o gentil rapaz respondeu com: "lido" e me deu o tratamento fantasma. [Edit pós postagem: o rapaz começou a namorar uma moça belíssima, uns 15 anos mais nova do que eu, amei, me senti incrível, vi por acidente, inclusive achei que era uma das filhas, enfim. Sou budista e a felicidade dos outros é mais importante.]

Corta a cena, entra a minha irmã para perguntar se não há alguns rapazes que sejam, como dizer, um tanto menos piores, daí eu disse que deve ter, mas é a pandemia, né? Ainda não encontrei no "Tinder" rapazes que gostem de arte sacra e tumular (extremamente em baixa em tempos de genocídio). 

O problema de levar grandes foras quando se tem baixa autoestima é que todos os devaneios adolescentes começam a ressurgir. Você começa a colocar toalhas em espelhos ou até a não ter espelhos e começa a sair de casa parecendo com o vocalista do Nirvana. Você faz reuniões de zoom com o cabelo no rosto e só faz foto/sai de casa se maciçamente maquiada ou, quando possível, com filtros (Oi, você pode falar comigo através da tela do meu celular onde estou com orelhas de gatinho?). Nossa, Taísa, mas achei que esse tipo de problema só afetasse meninas de 13 anos que querem ser a Ariana Grande.

Infelizmente, não. A dismorfia corporal e o ódio a si mesma vieram bem antes de tudo isso que está aí. E levar foras, como diria Robertão, "são momentos que eu não me esqueci". É que o sentimento de não ser o bastante para o "indivíduo z" atinge o ser humano em cheio. Rejeição e todo aquele papo que vocês já devem ter passado em algum momento de suas vidas. Se bem que tem gente que foi criada por família saudável e amorosa. Aí é uma seara que eu completamente desconheço. "Seu primo não te abusou sexualmente quando você tinha cinco anos, nossa, que legal." 

Tem gente por aí que nem sofre, acho tão fascinante, e quando sofre é por motivos pelos quais é considerado "aceitável" sofrer, como luto, divórcio e etc. Gente que paga conta em dia, que não tem ataque de pânico, que não entra no postinho de saúde tirando a própria roupa por não conseguir respirar e a oxigenação estar em 99%. 

Ao que tudo indica, sigo firme e forte. Por enquanto.


Uma salada de frutas só com bananas não vale a pena ser comida

Sempre que leio “Vacina já”, meu cérebro sofre uma síncope e transforma o clamor popular por “Vagina já”, o que não seria tão ruim se não fossem os 230 mil mortos apenas no Brasil. Isso até me lembra o escritor americano Philip Roth que não conseguia ver uma maçã cortada ao meio que já pensava nas vaginas. Ele não (acho), mas o personagem do livro O Complexo de Portnoy, talvez seja ele, mas vai saber. Nunca li o livro que explica o livro apesar de, obviamente, tê-lo comprado. 

Lembro que ao ler a obra durante a faculdade de Jornalismo, a cena da fruta me impressionou deveras e passei anos sem conseguir comer maçãs sem entrar em grandes debates filosóficos comigo mesma. Fora que comer maçã é um lance difícil. Descascar ou não? Comer ao natural? Com os dentes? Com a faca? Há um jeito certo de comer uma boa maçã?

Infelizmente, sou uma pessoa banana. Ou seja, uma pessoa que prefere comer bananas. Uma fruta facílima de descascar. Você descasca, tá lá ela. Prontinha. Só comer. Confesso que não gosto de banana velha, acho o cheiro meio forte e às vezes são molengas. Melhor fazer um bolo com elas ou quem sabe uma geleia.

Philip Roth é a base da minha formação literária e estilo de escrita. “Ui, eu escrevo como o Philip Roth, olha como eu sou inteligente”. Sempre conto essa história, mas vou me repetir aqui pois o site é meu e vou me repetir. REPETIR. Uma vez um cara disse que eu escrevia como os “Ensaios” de Montaigne e mais recentemente outro disse “você me lembra Salinger”. Por isso, gostaria que vocês acreditassem nesses rapazes cheios de segundas intenções comigo e não percebessem que eu preciso da validação de terceiros, geralmente homens, para me sentir capaz de qualquer coisa.

Na verdade, se você acompanha o que escrevo há pelo menos uma década, você sabe que da minha peregrinação por consultórios médicos país afora com o seguinte questionamento: “Doutor, eu tenho algum tipo de atraso mental?” Chegava angustiada e dizia: “Pode me dizer a verdade, nós faremos o que for necessário. Eu não tenho medo”. E nada. Diziam que eu falava 348 idiomas e que não sei mais o quê. Gente, eu não sei como se fala “palmilha” em Francês, vocês sabem?

Isso até que eu parei com a minha obsessão por psiquiatras homens e judeus e fui a um consultório comandado, vejam só, por uma mulher. Daí eu conto a minha história triste e repetida à exaustão a cada novo profissional de saúde: “Fui abusada, fui x, y e z” e eis que ela me vem, do nada, com: “Você já chegou a receber o diagnóstico de TDAH? Eu acredito que você tenha o grau 3”. Ela veio com a inovadora ideia de que não era normal bater o carro três vezes por ano, levar 18 anos para perceber sofreu abuso sexual, quebrar um copo por dia, ser assaltada 27 vezes durante a vida e repetir “eu moro no apartamento 94” para não correr o risco de tentar invadir o 84. Muito calmamente a informei que eu era apenas “desligada” porque gostava muito de literatura e vivia “no mundo da lua”.

Afirmei ainda que meus pais haviam me corrigido em relação a isso com muita surra e gritaria. Ela, portanto, não precisaria se preocupar. Quando tomei meu primeiro Venvanse (remédio para o déficit de atenção, vendido apenas com prescrição, não sejam idiotas), olhei ao meu redor e disse para os desconhecidos que passavam na rua: “Então é assim que vocês vivem?”. Obviamente que o medicamento custa R$ 300 e eu acabo não tomando todo mês e volto para a espiral da destruição e auto sabotagem. Mas quem nunca, né, mores? Aliás, meu PIX é meu sobrenome arroba gmail ponto com. Não sejam tímidos. E, aliás, acho que já escrevi sobre esse livro, não lembro, afinal, são treze anos alegrando a garotada deste bairro chamado internet.

Conquiste o seu próprio fundo do poço em quarenta e oito parcelas fixas

Daí me dizem que as crianças de hoje não sabem o que é brincar fora de casa, subir no pé de laranja, se lambuzar de terra; só ficam nesses tablets, como robôs. Meu amigo, se eu me sujei na minha infância foi de kiboa quando a minha mãe me obrigava a limpar a casa como uma pequena escrava (nunca fui pequena). Tirando isso, passei meus dias com a cara na frente da televisão assistindo ao SBT. Apenas SBT. Se bobear, eu nem sabia que existiam outros canais de televisão. Tinha uma amiga, a Fabiane, nós gostávamos tanto de Maria do Bairro que encenávamos as cenas em forma de brincadeira. Um dia eu era a Soraia e ela a Maria e depois invertia. Aquele capítulo em que a Soraia ameaça tocar fogo em tudo, inclusive na coitada da Thalia, era demais, usávamos fósforo e tudo. Meus pais nem aí se explodíssemos a casa. Meus pais, aliás, constantemente se chocavam com a minha existência. "No terceiro filho você não se preocupa mais", dizia a minha mãe. Verdade.

Eu tenho um tablet, um tal de iPad, e uso muito ocasionalmente quando quero assistir à Netflix ou aulas on-line, já que roubaram meu computador. Filhos da puta. Minto, uso também para ler PDF que não consigo abrir no Kindle porque não tenho ideia de como se converte um arquivo. Ok, uso meu tablet pra burro (amo a expressão). Entretanto, percebi que sou uma grande tiazona da internet. Fiquei para trás no bonde da tecnologia. Quem diria que eu, que nunca fiquei offline, acabaria dessa maneira. Pleno 2017 e eu ainda tenho um blog. Caceta. E, agora que estou velha e parei de usar tênis da Vans e camiseta de banda, só uso saia, saltinho e posto fotos de biquíni nas redes sociais (as que sei usar). Mudei de personalidade. Vocês respeitem o momento triste pelo qual estou passando. Curtam as minhas fotos de shortinho. Em breve, segundo especialistas que tenho consultado, devo voltar ao normal.

Chega uma idade na vida que você precisa admitir e dizer em voz alta: eu nunca vou ter o corpo da Kate Moss. É horrível, eu sei. Mentira, não é horrível. Tudo bem não ser a Kate Moss. Horrível mesmo é a quantidade de conteúdo que preciso estudar para esse lance de Instituto Rio Branco que resolvi apostar as minhas três fichas finais antes de encontrar o último chefão desse jogo horrível que é viver. Eu deveria estudar, inclusive. Acho que se eu colocasse pra mim "quero ser a Shakira" no lugar de "quero ser diplomata", eu teria mais sucesso.

Pedi demissão de novo desde a última vez que postei aqui (sou viciada em pedir demissão, eu sei), para só estudar (e dar aulas dos duzentos idiomas que aprendi na vida - ainda alguns a menos que a Shakira - durante meio período), mas tem sido um tanto desafiador, porque DORMIR É MUITO MAIS LEGAL DO QUE TODAS AS COISAS QUE EXISTEM NO MUNDO NESSE MOMENTO. Sabe o que é bacana, aparentemente eu sou uma  professora legalzinha, ganho cartões, presentes, agradecimentos sinceros e tudo o mais. Nunca ninguém havia chorado de gratidão diante de alguma matéria jornalística que eu tenha escrito (mentira, teve o cara que morreu de emoção, mas tirando ele), então esse flerte  com o magistério tem sido show de bola. Se você quiser que eu te ensine coisas, fale comigo.

Hoje esse blog completa DEZ ANOS de existência, tudo bem que fiquei quase um ano sem postar, mas anyway, que grande acontecimento. Tá ouvindo os fogos aí no seu bairro? Nunca fui fiel a nada. E olha eu aqui, escrevendo sob as mais pesadas camadas do fracasso, dirigindo o caminhão do recalque daqueles que ainda não venceram na vida (e provavelmente nunca irão). Eu quero ser o bastião das coisas que não deram certo. Eu os guiarei pelas trilhas da derrota como venho fazendo desde 2007. Vocês não temerão, pois eu estarei convosco. Sempre que vocês se sentirem como lixo, lembrem-se que de que eu me sinto dessa maneira vezes quarenta e sete. Que o amor pela literatura e pela escrita nos una, já que nunca ganharemos o prêmio regional de qualquer coisa por texto nenhum.



Fuck the what

Apesar de algumas agressões físicas e verbais que duraram anos, não tive nenhuma dificuldade na vida. O que me dói mesmo é o meu texto ser uma merda (às vezes). Podem chorar, odiadores, mas voltei a escrever nesse espaço. Acho. Dou aquela escrevidinha e daí sumo por meses. Sou uma pessoa instável, vocês sabem. Minto, sou uma pessoa incrível, uma profissional de sucesso que só coleciona vitórias e responsabilidades. 

Make Taísa Great Again

Uma coisa um pouco triste: não estou morando em São Paulo. Pausa para choro coletivo. Para seguir com um "novo projeto" precisei tomar uma decisão delicada, horrível até, capaz de prejudicar a sanidade mental do cidadão médio; para alcançar um sonho futuro, amigos, precisei fazer uma coisa horrível, indizível, inigualável em seu prejuízo: precisei voltar a morar com a minha família. Digo, só com a minha mãe, algo pior do que morar com o próprio capeta, se você investigar por aí. Eu morava no sul da França até ontem e agora estou nessa por ESCOLHA. Wait, what?

Mas vamos falar de coisa séria, além de passar dez horas no meu trabalho novo, dei pra mim que me é obrigatório estudar 4 horas liquidas por dia e, céus, como eu amo estudar. Eu tenho vontade de lamber o Celso Cunha (whaaat?) inteiro de mais puro prazer que eu sinto com gramática. Como eu amo estudar as coisas que já sei. Deus, que prazer. Se bobear ainda fico rica estudando. 

Rich Kids from União da Vitória, PR

Falando em dinheiro, abri uma conta no Bradesco e acho que eu ganhei um limite, céus, pra quê, né?Periga de amanhã eu acordar com dois iPhones no bolso e vinte e sete comprimidos de ecstasy (apesar de não saber usar drogas, ninguém nunca ofereceu). Eu sou assim, esse é o meu jeitinho. Enfim, lembram que eu era obcecada num cara lá que era casado depois não era mais? Foi só ele me dar 0,1% de moral e eu vi que na verdade "NADA A VER IRMÃO" os sentimentos que eu nutria. Tudo que eu precisava era de alguém me tratando como lixo para eu ter como prova de que eu era realmente um lixo. E se eu não for um lixo? E, se pelo contrário, eu for uma jovem mulher maravilhosa, com sonhos e aspirações válidas e que merece ser respeitada por todo e qualquer palhação que aparecer no meu caminho?

Daí nos vêm a pergunta, deveria eu, Taísinha, cursar uma terceira faculdade? Estou considerando muito cursar Direito ou Relações Internacionais. Apoio que recebo nessa ideia: zero. Todo mundo é contra, se você tem uma opinião diversa, fale comigo. O que pode dar errado além do fato de eu não ter dinheiro para pagar a mensalidade? 


O que eu ando lendo? "O que ler após seu quarto ataque de pânico seguido?". Pois estou lendo um texto que a New Yorker não publica. Li umas autoajudinhas aí pelo meio de leituras altamente intelectuais e olha, gostei, achei que valeu a pena, acho, acredito, suspeito fortemente. Não vejo a hora de virar outra pessoa. Rainha da procrastinação, me senti incrível lendo "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes". Sabe o que essas pessoas não fazem? Elas não perdem uma tarde de produção escrevendo para um blog falido na internet. Lembram quando eu era famosa? Tinha coluna em revista de circulação nacional?

37 momentos que irão definitivamente restaurar a sua fé na humanidade

Assistindo a  um episódio de Friends de 1999, sinto, pela primeira vez em dois anos, que existe alguma esperança no amanhã. Tirando o fato de que meu nariz não para de sangrar por causa da altitude da montanha (estações de esqui, como eu as odeio), abraço a ideia de que sou uma vencedora. Conseguir acordar, levantar da cama e me olhar no espelho. Uau, imaginem a cara do Dr. R, meu ex-psiquiatra, lendo isso. Esses dias, aliás, uma amiga mandou uma foto dele no WhatsApp.

AMIGA: Nossa, esse era seu terapeuta??? Que guaaaaapo" (Eu contei exatamente quantas letras A ela usou na mensagem original, sei lá, pareceu importante)
EU: Sim, lindo e excelente.
AMIGA: Mas cara de bróder e jovem. E cobra uma bica.
EU: Cobra.

O importante é que agora eu tenho um plano. Minto, tenho, inclusive, dois. O plano A e o plano A+. Ambos os planos envolvem concluir a faculdade de Letras e publicar meu livro. O que muda é a cidade escolhida. Obviamente precisarei de um emprego. Olá senhor (a) recrutador da empresa Y que digitou o meu nome no Google e caiu nesse blog, queremos trabalhar, sim, queremos, que tal pagar (não precisa ser muito) para ver? Enfim, não é ótimo ter um objetivo na vida? Claro que tem um plano B. Sempre tem. E nesse projeto alternativo posso até escolher entre morar com a minha mãe ou com o meu pai, não é maravilhoso?

Antes de ontem tomei outra decisão que mudará a vida de milhões de pessoas. Resolvi que não vou mais escrever sobre sexo para a revista Z. Acho que nada a ver uma pessoa que chora toda a vez que tira a roupa escrever sobre sexo. Ou estou enganada? Foi como ser demitida, só que ao contrário. Fico triste, claro. Porém, é bacana ser honesta comigo mesma. É como vestir uma calça de moletom e um absorvente noturno. As possibilidades são imensas. 

Agora que, definitivamente, tenho zero fontes de renda, me pergunto: como vou me alimentar? Falando nisso, tenho engordado um quilo por semana. Nem tenho dinheiro para comprar tanto croissant. Talvez seja o nosso querido Hipotireoidismo, mas quem tem condições de fazer um exame de sangue nos dias de hoje? Preciso apenas de um tempo para elaborar uma estratégia. Falando nisso, pago academia? Paro de comer? Dirijo até a praia e depois corro na orla? Se ao menos eu conseguisse parar de beber uma garrafa de vinho por dia.

É uma droga ter que cuidar do próprio peso. Deus, que droga que é. Sempre que mastigo a minha salada sem sal tenho vontade de chorar (e choro). Engordei 14 quilos em 7 meses. E eu nem ligo para o meu corpo mole e repleto de celulites. O que me incomoda é que a minha cabeça fica muito menor do que o corpo. Meu joelho é maior do que o meu crânio e não há plástica que resolva esse problema. Se ao menos eu tivesse um cabelo armado. Vou comprar um laquê. Isso deve resolver. 

Não consigo lembrar da última vez que escrevi alguma coisa (esse blog tosco não conta) e começo a sentir saudades do menino Jornalismo. Como eu o amei. Se alguém topasse me dar um empreguinho, aquele cargo honesto de repórter, acho que eu voltava. Sei que fiz grandes discursos sobre ter largado a profissão, mas na verdade foi ela que me largou. 

Tirando algumas reportagens, nunca fui realmente feliz na graduação que escolhi, acho, lembram como eu era feliz? Ou não era? Ou era?

Começo a sentir muita saudade do meu ex-apartamento, dos cinemas, da minha room mate, quase tão deprimida quanto eu. Essa é a segunda vez que passo um tempão fora do Brasil, deveria tirar de letra essa coisa de "homesick", mas é difícil. Principalmente quando a própria mãe é dona dos pinschers mais adoráveis do planeta. Preciso aproveitar a França, frequentar direitinho as aulas (que vocês ajudaram a pagar no crowdfunding) e esperar que algo aconteça. Algo deve acontecer. Alguém vai me mandar um e-mail me convidando para fazer alguma coisa. Se bobear alguém me pede em casamento ou alguma editora se sensibiliza com o meu livro. Qualquer coisa.

O problema é que no meu livro eu não escrevo como aqui. Daí o pessoal lê meu trabalho "sério" e diz que "não conseguiu me encontrar na obra" ou que "não é honesto como as outras coisas suas que li". Eu poderia ser o próximo Marcel Proust, mas vocês preferem meu blog pessoal. 


Passados dez anos do meu vestibular, sinto que chegou a hora de escolher uma profissão

Posso estar errada, mas sinto que estou preparada para começar a verbalizar as últimas semanas dessa experiência magnífica que é morar na França. Afinal, foram duas batidas em dois carros diferentes, um assalto, uma multa e alguns problemas supostamente menores. Se eu começar a chorar em posição fetal por causa das lembranças, paro de escrever. Deus, dai-me forças. Sei lá, acho que tudo começou a ir realmente mal quando cheguei na escola de idiomas para fazer uma avaliação do meu nível de francês.

   Mademoiselle Szabatura, a senhorita já fala francês, temo que não haja nenhuma classe tão avançada aqui na escola, disse o coordenador.
   Não falo francês coisíssima nenhuma, respondi, em francês. Pode me colocar numa turma, sei lá, nível B1 ou B2. Basicamente, não sei escrever e adivinho o tal do léxico no mais puro “chute”.
   Quando você começou a estudar Francês?
   Em 2008.
   Concorde comigo, são sete anos de dedicação…

E, prestes a completar meses e meses como habitante da nobre cidade de Cannes, começo a refletir sobre as minhas escolhas (só furada). Fui um pouco maltratada no início, não nego, mas agora aparece alguém para me dizer que larguei tudo no Brasil (não tinha nada para largar) para vir morar aqui por um idioma que já domino?

   Depende, qual o seu objetivo na vida?
   Então, essa pergunta é um pouco complexa…
A imagem de uma Taísa recebendo o Nobel de literatura passa pela minha cabeça, mas não digo nada.
   Você não quer exercer o jornalismo aqui na França?
   Acho que não, não estou preparada para me separar em definitivo dos pinschers da minha mãe.
   O que eu quero dizer é: você já tem uma boa base no idioma, podemos trabalhar na sua escrita, que tal?
   Juro por Deus que não falo francês…
   Em que língua estamos conversando?
   Isso não é falar francês, acho.
   Eu acredito que você está num bom C2, hein?
   Mentira.
   Verdade.
   E agora?
   Você ficará numa classe um tanto menos avançada que você, mas recomendo que você foque na gramática, já que você foi meio mal no ditado.
   Mal quanto?
   Mal para um nativo, mas bem entre os estudantes. Você deveria ter feito um teste antes de viajar, assim poderia fazer um curso de artes, cinema, literatura…
   Esses cursos de Playboy são super caros, não tenho dinheiro para essas coisas.
   Bem, vamos levando. Você pode assistir às aulas sobre Cinema.
      Oba.Vamos levando.

Minha turma é ótima e eu não me sinto melhor do que quase ninguém, minha professora é estupenda, sempre dá um jeito de me humilhar na frente dos colegas quando penso que estou me sobressaindo. Tenho aprendido muito e até treinado um sotaque parisiense na frente do espelho (aquelas). O problema é que não sei o que fazer com esse novo idioma. Quero e não quero largar o jornalismo. Talvez seja professora. Quem sabe entre para a diplomacia. A verdade é que não quero trabalhar. Quero ser sustentada pelos meus pais idosos e virar uma tia velha rancorosa. Não sei, não consigo pensar em nenhuma profissão além de viver na França eternamente.

Claro que quero ser escritora. Se você for pensar, já sou uma (grandes coisas ser publicada por uma editora decente). O problema é que preciso de uma fonte de renda, nem que seja apenas para pagar meus empréstimos consignados do Itaú (acho). Não sei se meus pais me fariam pagar uma porcentagem do aluguel. Quero acreditar que não, mas vai saber. Não existe mais amor no mundo. (EDIT 2019: me fizeram pagar aluguel)

Muitas pessoas (umas três) me disseram no meu aniversário “que os seus sonhos se realizem”, mas a verdade é que não há nada específico que eu queira. Minto. Eu quero o troco em bala de iogurte. Sei lá, queria revisar meu romance (tenho medo de deletar tudo ao reler), publicar e não me preocupar obsessivamente com dinheiro.

Não há muita coisa que eu queira comprar, isso é verdade. Talvez um computador, já que o ladrão que invadiu meu quarto no meio de janeiro resolveu levar o meu (e todos os meus documentos, aquele filho de uma puta). De resto, nada. Nem viajar o mundo, acho. Descobri que odeio fazer aquele turismo de visitar três atrações por dia e aproveitar o máximo que um lugar tem para oferecer. Comprar guia turístico e caminhar que nem uma mula não é para mim. Acho. Mudo de opinião rapidamente, vocês, sabem. 

Minto, gosto muito de visitar cemitérios e igrejas. Só de pensar que o Vaticano está apenas a setecentos quilômetros de distância tenho vontade de bater a cabeça na parede por não ter dinheiro para ir até lá. E o túmulo do Thomas Bernhard na Áustria? O cemitério judaico em Praga? Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri (visitando cemitérios).

Agora eu apenas me sinto sozinha. Toda essa suposta bagagem intelectual (quatro idiomas, residência em três países e duas faculdades) só serviu para me isolar ainda mais das outras pessoas (e nunca me favoreceu numa entrevista de emprego). E nem é uma questão de arrogância, de me sentir superior (meu psiquiatra sabe o quanto me odeio), é apenas um sentimento de não pertencer a lugar nenhum. Ao mesmo tempo, adoro conversar com as pessoas, conhecer suas histórias e descobrir suas razões. Seria uma ótima ouvinte do CVV, acho. É uma pena que eu seja tão fissurada em suicídio (o ato poético) para isso. 

Nas aulas de francês todos falamos muito de nós mesmos. E escutamos uns aos outros. Quase fiz uma amiga, inclusive. Infelizmente tenho muita dificuldade em sair de casa e acabei cancelando em cima da hora todas as vezes que combinamos algo. Ela parou de me convidar, claro. Essa história não é inédita. Já aconteceu muitas vezes e deve acontecer de novo. (Taísa, seja a mudança que você quer ver no mundo)

Bem, voltando a falar de dinheiro, não tenho onde cair morta. Devo até as calcinhas e estou na França praticamente de favor. Entretanto, acredito que até dezembro, terei alguma ideia em mente. Só quero ter uma vida saudável, simples e sem grandes privações.  Na verdade queria morar em Paris, mas estou tão bem instalada aqui. Por que ser pobretaça em Paris é tão literário? Henry Miller, eu quero ser você. Deus, escutai a minha prece. (Taísa, aceite o papel de Fitzgerald, releia Suave é a noite, não se sabote)

Não importa o lugar onde eu more e o quanto eu me esforce para ser financeiramente independente, sempre serei o Cirilo desse Carrossel que é a vida (Cirilo conceitual, já que o "look" é de Maria Joaquina). Quem diz que dinheiro não traz felicidade nunca sentiu a liberdade que o dinheiro proporciona. Cacete, só penso em dinheiro. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Queria, acima de todas as coisas, viver unicamente de escrever. Só de pensar que daqui uns anos terei que frequentar entrevistas de emprego no Brasil com possíveis testes de personalidade e atividades em grupo já começo a cortar os pulsos. (Taísa, viva o momento)

Porém, grande parte do que escrevo é insignificante e sinto que meus textos nunca tocarão a ninguém da mesma maneira que os textos do Thomas Mann me tocaram (ui). Claro que não sou nenhum Thomas Mann, mas se não consigo me conectar com os outros, qual o real objetivo de escrever ficção? Que pergunta profunda, céus, qual o objetivo de escrever ficção? (Olho ao meu redor e não encontro respostas)

Percebi que posso estar no sul da França ou no interior do Paraná, fugir de mim mesma e de quem sou, nunca será uma opção (eita, olha o clichê). Só encontro significados na literatura, na música, na arte e no sono (a alma superior da humanidade, rs). O resto me anula ou me consome. Fora a luta diária contra a depressão que, aparentemente, vai morrer comigo. Deveria, sei lá, ter engravidado na adolescência. Isso teria matado meu lado artístico e sonhador. Hoje eu seria vendedora de loja e teria amigos. A culpa é dos meus pais que me deram alguma educação e me incentivaram a seguir os meus sonhos. Por quê eles me deram tantos livros pra começar?


18 coisas que você precisa saber antes de pedir sexo anal para a sua namorada

Você sabe que tem um problema quando não consegue ficar em pé por causa das mais diversas vertigens. Coloco leite no microondas e saio correndo deitar. Dois minutos depois levanto, pego o Nescau, faço as torradas, me agacho no chão para não cair e como rápido para poder voltar a deitar.

Uma voz na minha cabeça diz: "Taísa, isso não é normal". Levanto, decido abrir uma cerveja, mando uma SMS com semi-verdades para o meu psiquiatra, ele responde irônico, ou eu acho irônico, babaca, quem ele acha que é, se eu quiser beber cerveja todos os dias, qual o problema? Segundo ele, o álcool não é a resposta e eu deveria seguir com o tratamento. Típico. O objetivo não é evitar o pior? Sou feliz bêbada (nem sou).

Ele disse que eu poderia tomar meia garrafa de uísque por dia, mas que isso acabaria com a minha saúde (qual saúde, pensei). O álcool, segundo ele, oferece apenas um alivio dos sintomas, mas que, com o tempo, pararia de fazer efeito. Disse ainda que a escolha era minha e que me via na próxima consulta. Não respondi, com quem ele pensa que está falando?

"Taísa, você não come direito, nunca sai de casa, não faz exercício e mal sai da cama, como você quer melhorar?"

Nessa hora eu me pergunto qual o papel dos remédios de trezentos reais que compro todo mês na farmácia. Qual?

"Onde você quer que eu vá?", disse chorosa.

Comovido, me mandou fazer amigos no Facebook, já que não quero sair de casa. Disse que eu tenho que "curtir" e "comentar" a página dos outros, criar laços e ir nos "convites" que tenham a ver com a minha personalidade, como lançamento de livros, por exemplo. Como ele quer que eu lide com o meu preconceito com os novos escritores? Isso ele não falou.

"Taísa,você é tão infantil"

Comecei a chorar. Perguntei como a Evolução explicava o suicídio, ele disse que não sabia. Fazem o quê na faculdade de medicina? Fui no Google em busca de respostas e como depois de seis minutos não achei nada, desisti, mas queria saber. Pode ser que seja controle populacional, mas é só um chute. Gosto como a maioria dos sites que aparecem nas buscas são religiosos e tratam a evolução como uma escolha de crença. 

Poucos sabem, mas sou viciada em documentários de astrofísica. Céus, como somos pequenos. Meu cérebro explode. Olho para a cara do Neil de Grasse Tayson e penso, caramba, queria ser esse cara. Quanto mais incompreensível o documentário, melhor. Digito "BBC" no YouTube e mando ver. "A história dos invertebrados", "Quão grande é o universo", "A história secreta do toalete", "A história da arqueologia", "A história da cola", "A morte dos grandes felinos", "A migração dos pássaros", "Marte", e por aí vai. Fico hipnotizada, não penso em mais nada.

Outra paixão são as aulinhas do iTunes University. Estou fazendo um curso de Yale (ui) chamado "Death". Minha cara, rs. O professor entra numas e fica argumentando sobre a possibilidade de existir uma alma e se ela existir, ela é imortal? Fico olhando com a boca aberta para o iPad e até leio a bibliografia do curso. Inclusive, queria saber a real sobre Platão nos dias de hoje. Parada atrasada e chata do cacete. Li Fédon e o Sócrates fica lá falando, falando, falando, e eu penso "Velho, qualé que é?", mas eu sou apenas ignorante e talvez alguém me explique a utilidade. Por que não ler umas paradas mais moderninhas? Algo que torne a discussão filosófica plausível e atual. Que não seja KANT, né?

Empolgada com os meus estudos filosóficos, decidi que estava na hora de aprender latim. Ainda bem que tenho Rosetta Stone para alimentar todos os meus delírios linguísticos e ocupar meu tempo. Todo mundo deveria fazer o download desse programa. Sanduíche em latim é Paniculos Panis, que engraçado. O próximo passo é aprender grego. Ou arrumar um emprego, o que vier primeiro. 

Por falar em ansiedade, essa semana vou no consulado francês, chegou a hora da verdade. Vão me conceder esse visto ou não. Todo mundo consegue, dizem. O problema é que o correio da França perdeu um documento fundamental e lá no site está escrito "Nem me venha com xerox que não vai rolar". Estou indo com o Xerox. Nem quero mais ir. País idiota. Vou morar com os meus pais. 

Falando na viagem, hoje acaba o meu crowdfunding, mas vou deixar aberto por mais uns dias. Vai que vocês resolvem se compadecer com a minha dor. Alias, preciso sacar meu FGTS na Caixa, quando acabar esse dinheiro, acabou tudo, mas algo deve acontecer, algo sempre acontece.



Me vê um dedinho no fundo do copo

Sabe o que não me ensinaram na universidade? A saber quando sou convidada para uma rodada de sexo a três. Ninguém chega e diz claramente: “Vamos transar nós três?”. E, muito mais importante que identificar o convite, é saber como se comportar diante dele. A primeira vez que aconteceu eu estava no México trabalhando no estimável ramo da hotelaria. Chego no bar do resort e um americano me diz: “Você me parece feliz demais, tome aqui uma dose de Jack Daniels”. Cantada boa, why not? Sento na banqueta e degusto minha dose no balcão enquanto meus pés balançam no ar. Eu era jovem e cheia de sonhos.

“Então você trabalha nesse lugar?”, ele disse.
“Sim, eu não tenho escolha. Tanto lugar no mundo para visitar e você veio para o Caribe?”, respondi.
“Minha mulher insistiu”
“Ah, entendo”.

Já estava me preparando para sair quando ele falou: “Eu e a minha mulher gostamos muito de meninas simpáticas como você”. Colona do paraná e moça de família, dei um sorriso amarelíssimo e disse que precisava ir. O problema é, com os passar dos anos, os convites começaram a ser bem mais sutis. Nem sempre sei se estão me convidando para jantar ou para tirar a roupa. E só Deus sabe que, nessa vida, jamais recusarei uma boia grátis, por isso meu desespero. “Vai lá, Taísa, dá para todo mundo, só se vive uma vez”, dirão vocês. Considerei essa hipótese, mas honestamente? Não tenho estrutura emocional. Já sofri muito na vida e esse tipo de coisa nunca envolve uns caras bonitos e umas modelos internacionais. Quando esse perfil de casal belíssimo me procurar, quem sabe. Mentira, sou cagona e nem curto esses rolês. 

Falando em dificuldades, nunca fui de falar palavrão. Nada me daria mais alegria do que encher a boca e soltar um “gostosa é o caralho” quando mexem comigo na rua. Minha mãe me batia muito quando eu falava palavrão. Na vida adulta, simplesmente travei. Falo isso porque resolvi reler ‘Zazie no Metrô’. Havia lido até a metade na faculdade e não sei bem o que aconteceu. Bem, vocês sabem, eu era meio débil mental na faculdade, mas enfim, o negócio é que peguei o livro e li numa sentada.

Que pedaço de literatura, pultaquilparil. O livro, para quem precisa de contexto, é recheado de palavras chulas. E a tradução da Cosac Naify é tão boa que eu até toparia um ménage com o senhor tradutor (acho até que já o entrevistei para uma matéria sobre a FLIP).

–  Então, por que é que você quer ser professora?
–  Pra encher o saco das crianças – respondeu Zazie. – As crianças que tiveram a minha idade daqui a dez anos, vinte anos, cinquenta anos, cem anos, mil anos, sempre vai ter crianças para serem aporrinhadas.
– Pois é – disse Gabriel.
– Vou ser uma vaca com elas. Vou mandar lamber o chão. Vou mandar comer a esponja do apagador da lousa. Vou enfiar o compasso na bunda delas. Vou dar botada na bunda delas. Porque eu vou usar botas. No inverno. Aliás, até aqui (gesto). Com umas esporas bem grandes, pra fincar na bunda delas.

Céus, que personagem. Há tempos eu não me divertia tanto. Gargalhava alto em cada “caralho” que saia da boca da garotinha. Eu poderia ter sido uma bela de uma Zazie se não fosse pelas porradas de mamãe. Hoje eu seria uma artista no lugar de escritora fracassada.

Fora da zona da depressão total, achei que estava na hora de retomar aqueles grandes livros, com muitas páginas, pilares da literatura etc. Foi assim que decidi ler ‘O Castelo’, de Kafka. Muitos me alertaram de que a obra era densa, difícil, longa; que causaria estranhamento. Pois bem, li em dois dias. A verdade é que tenho lido um livro a cada 48 horas e escrevo uma página a cada 24. Tenho realmente me empenhado em ser a pessoa que eu quero ser. Acho que vou até aprender a cozinhar alguma coisa. Um homem só consegue viver até certo tempo se alimentando apenas de congelados e sanduíches, acho.

Fora morrer de fome, uma coisa que eu não desejo para ninguém é o contato com empresas que fazem tradução juramentada. Céus, como eu os odeio. Para a tradução de um atestado médico de três linhas me cobraram a barganha de R$ 99. Três linhas. E me pedem cinco dias úteis de prazo. Putos. Chega o dia de entregar e as três linhas não estão prontas. Mesmo não tendo moral para falar, sempre atrasei todos os meus textos, dei um pequeno escândalo no telefone. “PORQUE NO LUGAR DE DESCULPINHAS O SENHOR CAMILLE NÃO SENTA A BUNDA FRANCESA DELE E TRADUZ AS MINHAS TRÊS FUCKING LINHAS?”. Quando o próximo editor vir gritar pelos meus DEZ MIL toques (atrasados) lembrarei de Camille. Eu, pelo menos, faço o meu trabalho (devagar).

A culpa na verdade é da França. Para que eu possa morar legalmente no país, preciso provar que estou em pleno gozo da minha saúde e das minhas faculdades mentais. O psiquiatra liberou. Se entendam com ele. Tive ainda que escrever uma carta de próprio punho em francês dizendo por qual motivo quero morar na terra de Baudelaire. Pensei em falar da grandiosidade dos cemitérios, mas poderia pegar mal e então fiquei somente nos clichês. Deve dar certo, acendi uma vela de sete dias.

E o Detran? Deus do céu, o Detran. Demoram vinte dias (corridos, amém) para agendar um exame. Vinte dias o caralho. Liga na auto-escola. Chora. Oferece suborno, mas é o sistema. Cacete, como eu odeio o sistema. Quer sacar o FGTS? Pois a Caixa Econômica está em greve. Entrou na livraria? Cartão recusado. Porém, não deixarei me abater pelas adversidades. Eventualmente, tudo dará certo. O que um país perde com a minha reles presença? Querem que eu vá ilegal?

Daí liga a minha mãe pedindo dinheiro. “Mãe, a senhora lembra que eu perdi o emprego?”. Ela começa então a me contar que começou a procurar um segundo emprego como auxiliar de serviços gerais. Como aprendi toda a arte do abuso psicológico com ela, entro no jogo para ganhar. “Eu também estou procurando bicos como faxineira, mãe. Todo aquele estudo que a senhora pagou não adiantou de nada”. Então ela choraminga que quebrou o braço, o pé, as costas, a cara e eu não estou nem aí. Falo para ela ir ao médico. Ela diz que não precisa, que a hora dela está chegando, que só queria que eu fosse pra lá. “Mãe, não tenho dinheiro para a passagem”. Ela pede que eu vá morar com ela. Digo que não posso ir agora, por causa da auto-escola. “Faz aqui”, ela diz. “Já paguei”, rebato. “Para dirigir você tem dinheiro então?”. 

Relembro-a que preciso da CNH para o meu emprego na França. Ela xinga a França inteira e condena a minha viagem. Eu me rendo e pergunto de quanto dinheiro ela precisa. Digo que vou dar um jeito. Ela se ofende e diz que nunca pediu o meu dinheiro.


Minha mãe mora no litoral com os meus dois irmãos em uma casa enorme com piscina. É amada e bem cuidada por todos. Para se ter uma ideia, meu irmão tem o nome dela tatuado na barriga. A tatuagem é maior que a minha cabeça. Enfim, passam uns dias e ela liga de novo. “Já li os livros que você me deu, não tenho dinheiro para comprar outros”. Falo das toneladas de livros que deixei por lá. “Esses eu não gosto, gosto de livro de sacanagem”. Ou seja, se você, querido leitor, tiver em suas posse livros eróticos dos quais quer se desfazer, por favor, entrem em contato comigo. É pela minha mãe, uma senhora de 62 anos, muito necessitada, que faço o pedido. [EDIT 2017: quando minha mãe faleceu dormindo, do nada, deixou diversos vibradores gigantes e mais de cem livros eróticos]


Mais doente que a astróloga Susan Miller

Sabe o que é chato pra cacete? Não saber criar um website e querer muito ter um website. Primeiro você joga charme para aquele seu amigo programador que já trabalhou no Google. Quando ele disser "não entendo muito o Blogger, sabe?" você não se martiriza e tenta fazer sozinha. Você consegue, Taísa. Criei um espaço cafona? Provavelmente.  Simples como todas as minhas camisetas da Hering e vazio como a minha conta corrente. Sempre digo que contratarei um designer, mas não tenho dinheiro nem para pagar um táxi até o INSS. Depressão profunda e pobreza extrema são coisas muito desgastantes para se ter ao mesmo tempo, se você puder escolher, fique apenas com a segunda. Minto, fique com a primeira. Quem precisa de vitalidade para permanecer nesse mundo? 

Falando em pobreza, comprei o domínio ponto com ponto para dar mais credibilidade ao meu blog pessoal que deveria ter acabado em 2009. Espero que vocês tenham notado, a Monique, minha gerente, certamente notou. 

Apesar de mudanças e novidades, sigo na batalha diária contra tudo isso que está aí. Para quem acendeu vela de sete dias, mandou email, explicou a serventia do CVV, convidou para a noite de descarrego da Universal, a minha mais sincera gratidão. Estou melhor, apesar do look magra-doente-você-tá-bem? e tenho voltado às atividades diárias, como tomar banho e pentear o cabelo, por exemplo. Quando for milionária, irei contratar alguém para pentear o meu cabelo, céus, que coisa mais chata. Se não tivesse orelhas de abano, rasparia a cabeça. Se não precisasse da cabeça, cortaria ela fora. 

Então jogue suas mãos para o céu e espere pelo próximo texto. As organizações Szabatura estão comprometidas em reparar qualquer dano causado aos seus clientes e espera que os mesmos continuem com a fidelidade e o apreço que tornou toda essa jornada possível. Obrigada. 

"O Darkness! Darkness! ever must I moan"

“Taísa, se você postar no seu blog, pago toda a sua dívida no Itaú”, disse um admirador secreto desse simples blog. “É só passar o número da conta e escrever”.
São quase oito anos de blog e eu já recebi todo o tipo de mensagem. As de ódio, as de admiração, as de desprezo, as de elogio, as de xingamento e as de obsessão total ou parcial. Com as de obsessão total eu tomo um pouco mais de cuidado, confesso. Correspondência que descreve com riqueza de detalhes delírios masturbatórios pode ser legal, mas não pode errar a mão. Uma linha tênue separa a obsessão total da parcial. “Eu te acho bem bonita, mas a única que vez que bati uma pensando em você foi por causa daquele texto.” Uma vez recebi um email com uma única palavra: “puta”.
“Taísa, é legal ter fãs?”
“Veja bem, é só uma página do Blogger”
“Ah, mas eles só querem te comer, né?”
“Você acha que meu texto não é bom? É só uma questão de comer e dar?”
“Não é só isso, mas você fala que é loira e tem 1,80”
“Eu gosto do personagem que você criou”
“Qual personagem?”
“Essa sou eu, olhe para mim”
“Olhe bem na minha cara”
“Se eu fosse você, eu não me expunha tanto assim, e se alguém do trabalho ler?”
“Mas quantos remédios você toma?”
“Seus seios são naturais?”
Fiz dois amigos “na vida real”: um homem e uma mulher. Eles me tratam bem, cozinham para mim, se interessam pelo que faço ou deixo de fazer. Conheci ainda um cachorro chamado Batman que usa uma camiseta de criança no lugar de uma roupa própria para cachorro. Foi preciso apenas cortar um pedaço do pano da barriga, para não correr o risco de sujar a polo, era uma camisa polo infantil listrada, com urina. Segurei o choro quando vi aquilo. Um cachorro usando uma camisa polo infantil listrada. Agora eu entendo quando alguns falam em “arte fora do museu” ou “síndrome de Stendhal”.
“Sou feliz, bravo e crítico ao mesmo tempo”, disse o dono do cachorro, com seus 14 anos. Respondi que precisava anotar aquela frase para não esquecê-la. Como alguém consegue se definir assim? Com tão pouca idade? O que eu fazia aos 14 anos? Babava? Há treze anos lia Oscar Wilde, Harry Potter e Clarice. (Negarei até a morte, claro. Jamais li, inclusive).
Mas e o humor? Quando foi que entrou o humor? Acho que foi na escola, quando recebi os apelidos ‘Avestruz Satânico’ (porque eu corria muito) e ‘Dumbo’.
As minhas orelhas de abano nunca haviam me incomodado antes. Nem sabia que elas eram diferentes das orelhas das outras crianças. Tudo era uma grande novidade para mim. Minha mãe me apoiou, claro. Não com palavras doces de apoio, mas com cirurgia plástica infantil, claro. Eu tinha oito anos quando ela decidiu colocar silicone nos seios e fechou um pacote com o cirurgião plástico, incluindo as minhas orelhas e algo no rosto dela. Não lembro bem.
Ela perguntou se eu também queria fazer uma plástica na boca, já que tenho uma pequena cicatriz no lábio. Disse que não. Ela tentou me explicar que seria na mesma cirurgia, que eu não precisaria fazer nada. Que aquela correção seria crucial na minha vida adulta. Respondi "não" só porque ela queria ouvir um "sim". Minha mãe acatou o não e respeitou o defeito labial da filha. Olhem todas as minhas fotos, procurem algo errado na minha boca, quem achar ganha uma SMS premiada. O que é uma boca certa e uma boca errada? Por deus, onde estava o conselho tutelar em 1994?
Pode ter começado aí, o humor, mas pode ter sido antes. Foram tantos traumas. O humor defensivo provavelmente começou na maternidade. Alguma enfermeira deve ter feito algo, minha mãe me amamentou sem vontade, alguém deve ter dito que eu tinha cara de joelho. Humor é apenas uma forma de combate, mas isso até a minha mãe já sabe. Para que não restem dúvidas: gosto muito da minha mãe, apesar de todos os, digamos, detalhes, que dividimos juntas.
Carinha do leitor:
“Olha só: acabei de colar nove placas gigantes de cortiça na parede, para o que usei  - e cheirei - três latas grandes de Cascola. Estou bem longe do meu juízo perfeito. Feita a ressalva, quero dizer que li tudo o que eu encontrei na internet com a sua assinatura. Ri muito, chorei um pouco e agora - já faz algum tempo, na verdade - estou babando. Não é só seu estilo, deixe-me ver, um quê de jornalístico-coloquial, porém extremamente elegante e refinado, que é apaixonante (e como estou apaixonado por ele…) - mas alguns pensamentos são nada menos do que fantásticos (um médico judeu é a melhor pedida para a dor, pois ele vem de um povo que sabe tudo sobre sofrimento; atirar para matar na moça com legging de oncinha; agredir o papel com o grafite; a perigoethe; e por aí vai) - o ritmo é frenético e o repertório infinito. Seus artigos estão para ser lidos duas, três, quatro vezes. A cada leitura uma nova imagem é descoberta. Que delícia! Por favor, Taísa, acredite que essa minha percepção é totalmente desinteressada. Conheci seus textos faz uma semana e batemos papo virtualmente pelo Facebook por três dias. A rigor, nem sei se você existe realmente. Vai que se trata de um pool de escritores extremamente qualificados pregando uma peça na internet. Não sei. Mas, se for isso, eu caí direitinho. E there in lies the rub: e se não for uma pegadinha? Daí, Taísa, eu sei que você falou para eu não insistir em te tirar de casa. Que “talvez, no futuro” nós pudéssemos nos encontrar pessoalmente. Mas entenda que sentar na sua frente e (ok, esqueça o jantar) tomar uma cachaça (!) seria, para mim, o mesmo que, para você, fazer um dueto de ‘Cruisin’ no karaokê com o Morrissey. Não é preciso falar mais nada. Decidi não te encher mais o saco. Mesmo porque não tenho dúvida que você deve receber esse tipo de pedido de baciada. Porém, parece importante pra mim deixar muito claro meu desejo, uma última vez: quero te ver sem o intermédio de um computador e dar carne e osso para essa imagem de uma das pessoas mais interessantes que eu já conheci. Pense nisso com carinho, te peço! Bom, vou dar mais uma viajada em algum texto seu, antes de passar o efeito da cola. Que ela me ajude a descobrir alguma coisa que eu não percebi… Bjs”
Ok.
Podem tentar me convidar para sair, meu último namorado convidou 27 vezes antes de eu dizer ‘sim’ e daí ele disse ‘não posso hoje’, então guardei rancor por um tempo, mas aí ele me convidou para jantar num dia em que eu estava com muita fome e o romance começou assim. 
Sou uma pessoa assustada (no caso do e-mail acima, tudo bem estar), com complexo de inferioridade e com uma plástica mal feita nas orelhas. Tenho medo de tudo e de todos. Não vejo televisão. Tenho medo de ouvir música. Ando encurvada. Não sei o que é direita esquerda, norte, sul. “Taísa, pegue o elevador, passe a porta de vidro, vire a direita, estarei na sala a esquerda na máquina de café”, é uma das coisas mais assustadoras que alguém pode me dizer. Um lugar de que gosto muito é o Poupatempo da Sé. Você pergunta para a moça onde é o lugar x e ela diz “siga a linha roxa”, você olha para o chão e há uma linha roxa que te leva até ao local. Há uma linha roxa pintada no chão! Há linhas de várias cores, pois eles oferecem vários serviços.
A outra moça que me atendeu, no final da linha roxa, foi muito simpática comigo. Viu que eu estava lendo “O demônio do meio-dia” e perguntou se eu gostava de ler, disse que sim, mas que esse livro era muito grande e eu ainda estava na página 16. Ela disse que gosta de livro grande, que lê bem rápido e não tem problema de concentração. Eu disse que as senhas apitando quase me deram um ataque cardíaco e ela respondeu “você se acostuma”. Ela disse ainda que vai casar, que é evangélica, mas da Bola de Neve, uma igreja bem mais leve que as outras igrejas. A irmã dela também é evangélica, mas de outra igreja e mora em Paraty (RJ). “Ela odeia as igrejas lá, odeia todos os santos, diz que é tudo fanatismo”. Ela disse que não tem nada contra as igrejas católicas. Falei sobre a minha paixão por igrejas antigas como as de Paraty, fora meu amor por cemitérios históricos e túmulos de escritores famosos. “Acho que cada um é cada um, né?”. Concordei.
Após perder várias coisas, finalmente perdi minha carteira com tudo dentro, não havia muita coisa, claro. Precisei fazer um novo RG e CPF. Meu número de RG mudará. No Brasil não há um sistema unificado de RG, então o número vai mudar; inclusive, posso viajar para todos os estados do Brasil e fazer um RG diferente e colecionar vários documentos. Um repórter da Folha fez isso. Achei um barato, talvez o Itaú não ache legal, não sei.
Como vocês bem sabem, não tenho mais dinheiro para a academia, mas tudo bem, pois passou a vontade de levantar da cama e ir; uma pena, visto que emagreci doze quilos ao todo e fiquei com barriga negativa, algo muito desejado por certas mulheres, segundo pesquisei. Precisei ainda de uma artimanha aritmética para conseguir pagar as aulas de francês, o psiquiatra e o aluguel. Fora as vezes que ando de táxi por medo que alguém toque em mim contra a minha vontade. Um esbarrão no metrô é o suficiente para eu cair no choro. Estamos tratando essa questão, eu e o Dr. R., meu médico judeu. Querem que eu procure uma segunda opinião, dizem que o Dr. R. não está adiantando em nada, já que eu perdi a vontade de ler e escrever, as atividades mais amadas da minha adorável vida. Depois de brincar com os pinscher da minha mãe, claro.
“A verdade é que eu sou uma artista”, gostaria de dizer para alguém, caso alguém me perguntasse. Não para o meu psiquiatra, claro, ele diria que sofro de alguma síndrome de grandeza, ou algo do tipo. Ou ainda que sou da geração Y e me sinto especial e fui mimada pelos pais e por isso fico de frescura. Gostaria de rebater os críticos (imaginários, pois só os loucos chegaram nesse parágrafo)
"EU SOU UMA ARTISTA", podem anotar aí no bloco de notas de vocês.
Esses dias estragou o chuveiro lá de casa, tomei banho de canequinha, a diarista me ajudou a ferver a água e a jogá-la no balde. A água, não a diarista. 
“Taísa, se você tivesse condições financeiras, onde você estaria agora?”. Na França. “Em qual cidade da França?” Qualquer uma. Aliás, tirando as saudosas geadas do interior do Paraná, eu nunca vi neve. Neve de verdade.
“Quando você se sentir triste, lembre-se de tudo o que conquistou”.
“A geração Y não quer trabalhar. Ganharam tudo dos pais, não param em nenhum emprego, sentem que sabem mais que todo mundo”. Quando alguém me diz uma coisa dessas, lembro dos dois anos que trabalhei para as forças armadas, meus longos trabalhos em hotéis (aparentemente falar quatro idiomas só garante passaporte para a recepção de hotel) e vendedora de loja, claro.
Vamos nos rotular. Vamos dizer que ela “não aguentou o tranco, pobrezinha, muito mimada”. Já dizia Cidade Negra, você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui, querida. Acho que só não fiz faxina, mas hoje estou disposta a fazer. Inclusive adoro X-14 Cloro Ativo, passo sempre no box aqui de casa. 
Dedico doze horas do meu dia para o meu trabalho e quando não estou trabalhando, penso em formas de melhorar o meu trabalho. Meu nome sempre será trabalho. Algo me fez ser ambiciosa, quero ganhar o Nobel, vocês sabem. Ou apenas não perder o meu emprego. Nada vai me parar. Nunca deixarei de escrever. Meu romance já tem corpo e forma, mas sou uma fraude, sim, aquele clichê de escritor medíocre. Olho para o laptop e depois olho para o espelho, só quero chorar abraçada nos pinschers da minha mãe. Nada agride mais do que escrever. Sentar e passar cinco horas escrevendo é cansativo. Mata. E liberta.
Nunca fui livre. Sempre dependi de alguém. Sempre precisei dar explicações, dizer onde estou, com quem estou e até que horas vou ficar. Seja mãe, pai ou namorado. Hoje, pela primeira vez, posso fazer o que eu quiser, a qualquer momento. Desde que não dependa de dinheiro, porque isso é algo que eu realmente não tenho. Nada. Absolutamente nenhum real. Semana passada, aliás, estava muito frio e, na pressa, saí com pouca roupa de casa. Entrei numa Hering com o objetivo de comprar um moletonzinho qualquer para vestir por baixo da jaqueta (no sul dizemos japona). 
Como constantemente frequento a Hering e não tenho muita paciência para roupas, peguei o moletom mais simples que vi, cinza, com zíper, nada demais. Vesti e já pedi para a vendedora tirar a etiqueta. Aquilo era tudo que eu precisava. Não perguntei o preço porque sou desligada e nunca tive grandes surpresas financeiras com a marca, então nem me preocupei com isso. Enfim, cheguei no caixa e CENTO E DEZESSETE REAIS. Ok, passa no débito, depois eu penso nisso. Já estava vestida, sem etiqueta, atrasada para o trabalho, totalmente na merda, como sempre.
Se eu pudesse fazer apenas um pedido para o universo, somente unzinho, eu pediria para ganhar o Nobel de Literatura, mas se eu pudesse pedir dois, eu pediria para que as pessoas parassem de falar como idiotas sobre suicíd*o. Morre um ator famoso, todo mundo tem uma opinião formada, viram especialistas no tema. A imprensa dá detalhes desnecessários: não conseguiu cortar os pulsos profundamente e então se enforcou com um cinto. Shit, shit shit, shit, meu emocional vence, caio no choro, perco o controle e saio correndo para o banheiro (do trabalho). Eu digo para mim, volte, Taísa, volte, volte, perdemos um soldado, não perdemos a guerra, volte, pare de chorar agora. Há uma Taísa racional dentro de mim. Ela me ajuda demais e é muito querida. Volte, Taísa. Lave o rosto nas águas sagradas da pia, nada como um dia após o outro dia, pegue sua maquiagem vagabunda do Boticário, passe nessa cara e bola pra frente. O planeta para para falar do ator e comediante que se matou. Outro comediante havia se matado alguns dias antes também. Taísa, volte, mantenha o foco, trabalhe na sua matéria. Volte. 
"Oi, eu gostaria de um colírio que evitasse olhos vermelhos"
"Olha, eu uso esse sempre depois de fumar um, ninguém nota nada"
"Ah, não, então, eu choro por qualquer coisa, meus olhos ficam em chamas, queria um colírio que evitasse esse problema. E nada contra fumar, sabe? Eu super fumaria se gostasse, eu me sinto até mal por não gostar"
A Taísa racional me diz para calar a boca e ir para o caixa. TRINTA E OITO REAIS O COLÍRIO? Céus, passa no débito. Será que já cheguei no cheque especial? Não quero ver meu saldo, apenas não quero, Dr. R. pediu para que eu me concentrasse em tarefas prazerosas, vou fazer isso.