Daí me dizem que as crianças de hoje não sabem o que é brincar fora de casa, subir no pé de laranja, se lambuzar de terra; só ficam nesses tablets, como robôs. Meu amigo, se eu me sujei na minha infância foi de kiboa quando a minha mãe me obrigava a limpar a casa como uma pequena escrava (nunca fui pequena). Tirando isso, passei meus dias com a cara na frente da televisão assistindo ao SBT. Apenas SBT. Se bobear, eu nem sabia que existiam outros canais de televisão. Tinha uma amiga, a Fabiane, nós gostávamos tanto de Maria do Bairro que encenávamos as cenas em forma de brincadeira. Um dia eu era a Soraia e ela a Maria e depois invertia. Aquele capítulo em que a Soraia ameaça tocar fogo em tudo, inclusive na coitada da Thalia, era demais, usávamos fósforo e tudo. Meus pais nem aí se explodíssemos a casa. Meus pais, aliás, constantemente se chocavam com a minha existência. "No terceiro filho você não se preocupa mais", dizia a minha mãe. Verdade.
Eu tenho um tablet, um tal de iPad, e uso muito ocasionalmente quando quero assistir à Netflix ou aulas on-line, já que roubaram meu computador. Filhos da puta. Minto, uso também para ler PDF que não consigo abrir no Kindle porque não tenho ideia de como se converte um arquivo. Ok, uso meu tablet pra burro (amo a expressão). Entretanto, percebi que sou uma grande tiazona da internet. Fiquei para trás no bonde da tecnologia. Quem diria que eu, que nunca fiquei offline, acabaria dessa maneira. Pleno 2017 e eu ainda tenho um blog. Caceta. E, agora que estou velha e parei de usar tênis da Vans e camiseta de banda, só uso saia, saltinho e posto fotos de biquíni nas redes sociais (as que sei usar). Mudei de personalidade. Vocês respeitem o momento triste pelo qual estou passando. Curtam as minhas fotos de shortinho. Em breve, segundo especialistas que tenho consultado, devo voltar ao normal.
Chega uma idade na vida que você precisa admitir e dizer em voz alta: eu nunca vou ter o corpo da Kate Moss. É horrível, eu sei. Mentira, não é horrível. Tudo bem não ser a Kate Moss. Horrível mesmo é a quantidade de conteúdo que preciso estudar para esse lance de Instituto Rio Branco que resolvi apostar as minhas três fichas finais antes de encontrar o último chefão desse jogo horrível que é viver. Eu deveria estudar, inclusive. Acho que se eu colocasse pra mim "quero ser a Shakira" no lugar de "quero ser diplomata", eu teria mais sucesso.
Pedi demissão de novo desde a última vez que postei aqui (sou viciada em pedir demissão, eu sei), para só estudar (e dar aulas dos duzentos idiomas que aprendi na vida - ainda alguns a menos que a Shakira - durante meio período), mas tem sido um tanto desafiador, porque DORMIR É MUITO MAIS LEGAL DO QUE TODAS AS COISAS QUE EXISTEM NO MUNDO NESSE MOMENTO. Sabe o que é bacana, aparentemente eu sou uma professora legalzinha, ganho cartões, presentes, agradecimentos sinceros e tudo o mais. Nunca ninguém havia chorado de gratidão diante de alguma matéria jornalística que eu tenha escrito (mentira, teve o cara que morreu de emoção, mas tirando ele), então esse flerte com o magistério tem sido show de bola. Se você quiser que eu te ensine coisas, fale comigo.
Hoje esse blog completa DEZ ANOS de existência, tudo bem que fiquei quase um ano sem postar, mas anyway, que grande acontecimento. Tá ouvindo os fogos aí no seu bairro? Nunca fui fiel a nada. E olha eu aqui, escrevendo sob as mais pesadas camadas do fracasso, dirigindo o caminhão do recalque daqueles que ainda não venceram na vida (e provavelmente nunca irão). Eu quero ser o bastião das coisas que não deram certo. Eu os guiarei pelas trilhas da derrota como venho fazendo desde 2007. Vocês não temerão, pois eu estarei convosco. Sempre que vocês se sentirem como lixo, lembrem-se que de que eu me sinto dessa maneira vezes quarenta e sete. Que o amor pela literatura e pela escrita nos una, já que nunca ganharemos o prêmio regional de qualquer coisa por texto nenhum.
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