Sempre que leio “Vacina já”, meu cérebro sofre uma síncope e transforma o clamor popular por “Vagina já”, o que não seria tão ruim se não fossem os 230 mil mortos apenas no Brasil. Isso até me lembra o escritor americano Philip Roth que não conseguia ver uma maçã cortada ao meio que já pensava nas vaginas. Ele não (acho), mas o personagem do livro O Complexo de Portnoy, talvez seja ele, mas vai saber. Nunca li o livro que explica o livro apesar de, obviamente, tê-lo comprado.
Lembro que ao ler a obra durante a faculdade de Jornalismo, a cena da fruta me impressionou deveras e passei anos sem conseguir comer maçãs sem entrar em grandes debates filosóficos comigo mesma. Fora que comer maçã é um lance difícil. Descascar ou não? Comer ao natural? Com os dentes? Com a faca? Há um jeito certo de comer uma boa maçã?
Infelizmente, sou uma pessoa banana. Ou seja, uma pessoa que prefere comer bananas. Uma fruta facílima de descascar. Você descasca, tá lá ela. Prontinha. Só comer. Confesso que não gosto de banana velha, acho o cheiro meio forte e às vezes são molengas. Melhor fazer um bolo com elas ou quem sabe uma geleia.
Philip Roth é a base da minha formação literária e estilo de escrita. “Ui, eu escrevo como o Philip Roth, olha como eu sou inteligente”. Sempre conto essa história, mas vou me repetir aqui pois o site é meu e vou me repetir. REPETIR. Uma vez um cara disse que eu escrevia como os “Ensaios” de Montaigne e mais recentemente outro disse “você me lembra Salinger”. Por isso, gostaria que vocês acreditassem nesses rapazes cheios de segundas intenções comigo e não percebessem que eu preciso da validação de terceiros, geralmente homens, para me sentir capaz de qualquer coisa.
Na verdade, se você acompanha o que escrevo há pelo menos uma década, você sabe que da minha peregrinação por consultórios médicos país afora com o seguinte questionamento: “Doutor, eu tenho algum tipo de atraso mental?” Chegava angustiada e dizia: “Pode me dizer a verdade, nós faremos o que for necessário. Eu não tenho medo”. E nada. Diziam que eu falava 348 idiomas e que não sei mais o quê. Gente, eu não sei como se fala “palmilha” em Francês, vocês sabem?
Isso até que eu parei com a minha obsessão por psiquiatras homens e judeus e fui a um consultório comandado, vejam só, por uma mulher. Daí eu conto a minha história triste e repetida à exaustão a cada novo profissional de saúde: “Fui abusada, fui x, y e z” e eis que ela me vem, do nada, com: “Você já chegou a receber o diagnóstico de TDAH? Eu acredito que você tenha o grau 3”. Ela veio com a inovadora ideia de que não era normal bater o carro três vezes por ano, levar 18 anos para perceber sofreu abuso sexual, quebrar um copo por dia, ser assaltada 27 vezes durante a vida e repetir “eu moro no apartamento 94” para não correr o risco de tentar invadir o 84. Muito calmamente a informei que eu era apenas “desligada” porque gostava muito de literatura e vivia “no mundo da lua”.
Afirmei ainda que meus pais haviam me corrigido em relação a isso com muita surra e gritaria. Ela, portanto, não precisaria se preocupar. Quando tomei meu primeiro Venvanse (remédio para o déficit de atenção, vendido apenas com prescrição, não sejam idiotas), olhei ao meu redor e disse para os desconhecidos que passavam na rua: “Então é assim que vocês vivem?”. Obviamente que o medicamento custa R$ 300 e eu acabo não tomando todo mês e volto para a espiral da destruição e auto sabotagem. Mas quem nunca, né, mores? Aliás, meu PIX é meu sobrenome arroba gmail ponto com. Não sejam tímidos. E, aliás, acho que já escrevi sobre esse livro, não lembro, afinal, são treze anos alegrando a garotada deste bairro chamado internet.