Como tomar as rédeas de sua vida e assim se tornar a Taylor Swift do seu bairro

O Brasil é o fundo do poço e até aí nenhuma novidade. Contudo, é o meu fundo do poço. E hoje faremos uma pausa das desgraças coletivas e focaremos em um só indivíduo: eu. Após muito jurar que nunca mais trabalharia com jornalismo, adivinha o que eu estou fazendo?  Tenho sido feliz profissionalmente, principalmente porque agora todas as famosas possuem suas próprias contas de Instagram e quatro assessoras de imprensa, o que deu uma facilitada no nobre ofício de cobrir celebridades. Resumindo a missa: continuo amando ver o meu nome impresso em uma revista, por mais que ninguém leia e meu pai prefira a publicação da concorrência. "Quando você irá voltar a trabalhar na revista X?" Ao que eu respondo que gosto muito de trabalhar na revista Y.

O problema está no simples fato de que toda a revista que eu trabalho acaba fechando. Vamos torcer para que agora não seja o caso. Será que que carrego uma profecia à la Harry Potter? Imagina eu e o Voldemort lutando pela última banca de jornal? Na real, na real mesmo, eu aceito o que vier. Aprendi com anos de muito sofrimento que eu aguento qualquer porrada na cara e saio pedindo mais. O presidente quer matar todos os habitantes do país? Ótimo, tirando os 27 ataques de pânico, mal me abalei. (Essa frase contém suprema ironia, caso alguma alma sensível não a tenha captado, mas pode me "cancelar" também, já que nunca recebi aprovação alheia e, na boa, estou cansada)

Sabe o que realmente me deixa entristecida. Peraí que vou subir aqui no caixote de madeira na Praça da Sé, no centro de São Paulo, para fazer um discurso (de máscara): "Eu fico muito entristecida com os homens héteros que povoaram a minha vida durante essa pandemia."

Um era um completo sociopata que me mandou, atenção para o que vem a seguir, plantar repolhos no interior do Paraná, fora outras agressões verbais e ameaças bem bacanas que decidi não levar às cortes pois se eu tenho medo de algo, é de gente rica com poder de desgraçar a sua vida. Já o outro, apenas um filho de uma puta convencional, o tradicional esquerdo-macho-poliamor. No entanto, eu me apaixonei, ui, olhava para a cara de idiota do rapaz e ficava com aquela cara de besta que não fazia há anos. Achava que tínhamos algo em comum até que no quarto encontro recebo a seguinte mensagem: "E se fossemos só bons amigos?" (Pausa para a Taísa ter uma síncope e passar seis horas meditando)

Como sou muito inteligente, formada nas melhores escolas do planeta (aquelas), decidi dar uma segunda chance e uma terceira e uma quarta ao rapaz. Minha amiga Larissa só observando, afinal, o que ela poderia fazer? Na quarta chance ele veio com um papo muito estranho de, pausa para ler a próxima frase com compaixão (por mim), "eu não acredito em namoro", dita no meio da minha cozinha após passar a noite comigo, tomando o café que eu passei no meu coador e despejei na minha térmica e ofereci na minha xícara. Sabe o que eu fiz depois dessa? Ah, mas vocês não vão acreditar. Eu peguei e dei uma quinta chance para o cara. Contudo, estabelecida a data para o encontro, estava exausta, derrotada pela vida, ao que o gentil rapaz respondeu com: "lido" e me deu o tratamento fantasma. [Edit pós postagem: o rapaz começou a namorar uma moça belíssima, uns 15 anos mais nova do que eu, amei, me senti incrível, vi por acidente, inclusive achei que era uma das filhas, enfim. Sou budista e a felicidade dos outros é mais importante.]

Corta a cena, entra a minha irmã para perguntar se não há alguns rapazes que sejam, como dizer, um tanto menos piores, daí eu disse que deve ter, mas é a pandemia, né? Ainda não encontrei no "Tinder" rapazes que gostem de arte sacra e tumular (extremamente em baixa em tempos de genocídio). 

O problema de levar grandes foras quando se tem baixa autoestima é que todos os devaneios adolescentes começam a ressurgir. Você começa a colocar toalhas em espelhos ou até a não ter espelhos e começa a sair de casa parecendo com o vocalista do Nirvana. Você faz reuniões de zoom com o cabelo no rosto e só faz foto/sai de casa se maciçamente maquiada ou, quando possível, com filtros (Oi, você pode falar comigo através da tela do meu celular onde estou com orelhas de gatinho?). Nossa, Taísa, mas achei que esse tipo de problema só afetasse meninas de 13 anos que querem ser a Ariana Grande.

Infelizmente, não. A dismorfia corporal e o ódio a si mesma vieram bem antes de tudo isso que está aí. E levar foras, como diria Robertão, "são momentos que eu não me esqueci". É que o sentimento de não ser o bastante para o "indivíduo z" atinge o ser humano em cheio. Rejeição e todo aquele papo que vocês já devem ter passado em algum momento de suas vidas. Se bem que tem gente que foi criada por família saudável e amorosa. Aí é uma seara que eu completamente desconheço. "Seu primo não te abusou sexualmente quando você tinha cinco anos, nossa, que legal." 

Tem gente por aí que nem sofre, acho tão fascinante, e quando sofre é por motivos pelos quais é considerado "aceitável" sofrer, como luto, divórcio e etc. Gente que paga conta em dia, que não tem ataque de pânico, que não entra no postinho de saúde tirando a própria roupa por não conseguir respirar e a oxigenação estar em 99%. 

Ao que tudo indica, sigo firme e forte. Por enquanto.


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