Onze maneiras de manter o corpo em movimento e a cabeça semi-funcionando

Talvez você, no aconchego do seu lar, já tenha se perguntado: “Afinal, onde eu gasto o meu dinheiro?”.  Se você, meu amigo, lê esse blog desde 2007 (são uns três rapazes e uma moça), sabe que eu tenho o meu lugar de fala e ele se chama “Serasa”. Eu, tecnicamente, tenho um emprego, não ganho mal, mas não consigo pagar nada e muito menos, comprar aquela bolsa usada da Prada feita com couro de crocodilo ou até mesmo aquela água com gás francesa de sete reais (no atacado). 


Percebi, para grande surpresa de todos os gerentes de todos os bancos em que possuo contas, uns sete, que o gargalo das minhas finanças está no meu uso indiscriminado do Uber e do iFood. O que eu posso fazer se o metrô fica a um quilômetro e meio da minha casa? (“Nossa, Taísa, quantas pessoas têm o privilégio de morar próximo ao metrô. Você não tem vergonha nessa cara?) E, para piorar, meu prédio fica em uma subida que fortalece as panturrilhas até de quem não queria fortalecer parte do corpo nenhuma? Querem que eu retome a minha carreira de modelo agora?


Até me matriculei em uma academia após a segunda dose da vacina. Fui três vezes, empolgadíssima. Pensava, “nossa, para quem doarei tanta serotonina e endorfina?”, mas então, me machuquei (por colocar pesos irreais nas máquinas) e parei de ir. Quando passei novamente a andar na postura “ereta” e a erguer os braços sem urrar de dor, pensei, agora vou voltar. Tudo certo para eu voltar, roupinha fluorescente de malhar separada, garrafa de água e jogo de PFF2, tudo ali, no grau. O destino, no entanto, me impediu. Durante uma rara chuva na cidade, sem guarda-chuva, corri para pegar o metrô e ao chegar na porta resvalei (mentira que o certo não é “resbalei”?). Caí, estatelada. Primeiro as minhas lindas pernas voaram para o alto, em seguida, cai com meu admirável cóccix na pedra e em seguida bati a cabeça no chão. Isso na Faria Lima, um lugar tecnicamente chique, acredito, ou me disseram.


Segurando diversos livros e sacolas, decidi desistir. Fiquei deitada, chuva grossa caindo em mim. Pensei se valeria a pena seguir vivendo. Notei que policiais e diversos marmanjos me observavam. “Estou linda, né, caras?”


Isso até que uma senhora, assim como eu, cheia de sacolas de plástico, obesa, com seus 70 anos, resolveu me ajudar a sair da crise existencial na qual me encontrava, no chão da entrada do tão estimado metrô da linha amarela. Ela já aproveitou para xingar a todos a minha volta, não poupou a ninguém: os parados, os policiais, o governador, o presidente e alguma entidade misteriosa com a qual já havia conversado: “Eu falei que algum dia alguém iria se machucar aqui”, disse ela tentando levantar uma gigantesca paranaense do solo. Ela derrubou as suas sacolas em mim, fiquei um tanto mais pesada, mas como toda mulher brasileira, ela conseguiu. Quando eu já estava de pé, surgiu um rapaz para pegar os meus 16 cartões de crédito, que voaram da minha bolsa na queda. A senhora então olhou no fundo dos meus olhos, com a maior seriedade que a sua máscara no queixo permitia e perguntou: “Você está bem?”


Vejam, essa pergunta é muito ampla, atende a diversas ramificações do cotidiano, mas entendi que ela falava do tombo. Falei que sim, mas com a certeza de que havia quebrado o cóccix e de estar encharcada e tremendo de frio. Um dos efeitos colaterais dos 26 remédios que eu tomo é extrema sensibilidade ao frio. Meu cérebro entra no modo tela azul do Windows diante do frio, porém, de alguma maneira, cheguei em casa, andando um quilômetro após descer do metrô mais próximo e ainda descer a ladeira na enxurrada. O porteiro disse que eu deveria pegar o elevador de serviço “para não molhar, sabe?”. 


Essa, contudo, nem foi a maior humilhação que passei nos últimos meses. Em algum momento entre a postagem anterior e essa, adotei dois gatos, pois sou muito sozinha etc. Daí que a ONG que me forneceu o Boris e a Masha (aqui é leste europeu, porra! Mentira, já sou a terceira geração de ucranianos nascidos no Brasil. Ucranianos, sim, risos) me fez assinar diversos contratos, verificaram a minha casa e me deram várias tarefas, como vacinar com o inoculante X e etc. Pois bem, achei uma clínica especializada só em gatos e para lá me dirigi, de Uber, com os gatos na caixa de transporte. Antes de ir, liguei e fiz o clássico questionamento: “Moço, quanto que é? Vocês parcelam?”, ele falou que sim e assim fui sem medo. Chegando lá fomos tratados (eu, Boris e Masha) como a mais pura realeza Romanov (antes da revolução) e ao final do atendimento me dirigi ao caixa. “Vou pagar no cartão”, disse. Ao que a secretária respondeu, “não aceitamos cartão, mas você pode fazer um PIX”. 


Eu ali, ao vivo, não era uma ligação de telefone do Itaú, sem nem um real na conta (em nenhuma conta), já completamente rosa, falei: “Mas no telefone vocês disseram que parcelavam!”. E ela gentilmente me explicou que o parcelamento era feito através de um carnê da clínica. Meu deus, quem não aceita cartão na maior capital do país? Estamos no interior do Paraná novamente? Na hora me ocorreu ligar para a minha irmã, que iria me matar, pois devo milhões só para ela. Fora que já possuo quatro animais em Santa Catarina, que estão com o avô (meu pai). No fim, decidi ir com a mais pura verdade. “Moça, eu não tenho dinheiro nenhum, só o cartão de crédito. E agora?”


Ela me explicou sorridente que não havia problema e que iria me dar uma nota, eu poderia pagar o valor quando pudesse (na próxima encarnação, será?). Apesar de ser um grande fiasco financeiro, nunca tinha recebido uma nota em papel a ser paga. Ainda bem que os gatos vieram castrados, com metade da vacinação em dia. Agora só falta a da Raiva (para os gatos, não para mim) que parece que o governo estadual fornece. Será que algum dia terei alguma estabilidade, em qualquer âmbito da minha vida? 


Para saber mais, acesse esse humilde blog (e também faça um PIX como agradecimento: meu sobrenome arroba gmail ponto com). Também aceito cartões presente da Uber e iFood. No mais, seria legal fazer amigos.


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