Em busca do tempo perdido - No caminho da demissão

Você está na fila do buffet e logo aparece alguém para te dizer que o Jornalismo morreu, que os empregos acabaram, que a revista que você trabalha irá fechar e que o futuro é feito somente de desamor e mídias alternativas. Poxa, mas na fila do buffet? Não só na fila do buffet, mas no elevador, na máquina de café, naquela hora que você achou que tinha encontrado um esconderijo secreto dentro da empresa. "Eu ouvi que gnomos vão comprar a revista X e 2.575.986.241 pessoas serão demitidas". Você sente vontade de responder sobre como pensou o dia inteiro naquela sua velha vontade de tirar as amígdalas. Como será que as moças dos filmes privê conseguem engolir tudo aquilo? A verdade é que você não tem o que responder, não queria responder, mas e o networking, meu Deus, e o networking? Imagino Dante lá no sétimo círculo do inferno tendo que fazer networking para poder subir na vida. 

A pessoa finalmente se afasta e é inevitável pensar no que será feito com aquela dívida do Itaú de vinte e sete mil caso a demissão seja uma realidade. Nunca fui demitida. Também nunca fui pra Disney. Será que vou chorar? Provavelmente eu chore. Se eu for demitida, vou com a minha roupa do corpo até o rodoviária do Tietê e compro uma passagem para Santa Catarina. Saio da terra do Dr. Geraldo com um único objetivo: abraçar os pinschers da minha mãe. Só eles me darão a serenidade necessária. O importante é ter um plano e não dar voz para o desespero. Esse é o meu plano.

Tirem esse Band-Aid de uma vez. Joga essa verdade na minha cara. Passa essa bola pra mim. Quando você considera o seu emprego a coisa mais bonita e extraordinária que já aconteceu na sua vida, talvez você enlouqueça nos primeiros dezessete boatos de falência da sua empresa. Talvez você arranque os cabelos e grite "WHAT DO YOU WANT FROM ME", como as mocinhas em perigo dos filmes de terror.

E, de repente, você se pergunta porque ama tanto o seu trabalho, porque não quer largar o osso, quer lutar até o fim. Alguém diz que a melhor coisa que poderia acontecer agora para você é uma demissão. Quatro letras surgem na sua mente: I, T, A, Ú. Eu amo meu trabalho, amo fazer networking, amo os pinschers. Não quero ir embora.

Esmagada em todas as horas, sempre devendo dinheiro, enfrentando críticas pesadas, suportando as piores tarefas e sempre fracassando. Como um texto sobre xampu pode estar tão errado? Deus, eu odeio a minha vida. Eu odeio a minha vida dos últimos dois meses. Mentira, eu já odiava antes. Eu sempre a odiei em partes. Acontece que eu cheguei ao fim de uma jornada. Será que eu sonhei o sonho errado? Mentira, eu amo a minha vida. Quero ser Jornalista até morrer.

E a bomba finalmente cai, sua revista fecha e você é demitida.E tudo de uma maneira tão banal. Primeiro chorei escondida, depois chorei em público, em seguida bebi tudo que vi pela frente; e hoje fui com a maior cara de fracassada entregar a minha carteira de trabalho na empresa. Não é o fim do mundo, mas me tirou a vontade de almoçar. Eu amo almoçar. Nada pior do que uma vida sem amor. Dizem que mais de duzentas pessoas foram demitidas no mesmo dia que você. Outras revistas fecharam. Sites inteiros chegaram ao fim. Você vê gente de calibre sendo mandada embora, você fica atrás delas na fila do exame demissional, inclusive. "Oi, admiro o seu trabalho", quero dizer, mas não digo. Você vê que você não foi embora por incapacidade, mas pela assustadora frase : NÃO HÁ VAGAS, O MODELO DE NEGÓCIOS FALIU.

Eventualmente você consegue parar de chorar e de beber. Ou apenas de chorar. Começa a disparar emails dizendo quem você é, porque gostaria de trabalhar na empresa x, faz de tudo. Sua mãe manda SMS dizendo que você é linda e talentosa. Aliás, todo mundo te chama de talentosa. A talentosa acorda no dia seguinte e assiste ao programa da Fátima Bernardes. É tanto talento que começo a chorar.

Daí alguém diz que você vai ser transformar na Carson McCullers brasileira, mas no fundo essa pessoa só quer te levar pra cama, e quase consegue, pois você realmente queria ser a Carson McCullers brasileira. Nunca vou me esquecer daquela vez que falaram que eu escrevia como o Henry Miller, mas me comportava como a Stephanie Meyer (a autora da saga Crepúsculo). Aquilo me ofendeu tanto, mas tanto. E se for pensar, é um puta elogio. Acho legal ninguém me falar nada, nem agressão, nem elogio. Acontece que não tenho estrutura emocional para a opinião alheia.

"Mas, Taísa, você não pode abrir o blog para o público, as empresas não gostam desse comportamento!", mas é só o meu blog pessoal, gente! Sou super boazinha, entrego tudo no prazo, entrevisto pessoas como ninguém, faço tudo. Sou daquela geração que usou muito a ironia e depois virou fã do David Foster Wallace e quer viver sem ironia nenhuma, a tal geração pós-ironia. Você toma uma decisão: deleta Twitter, Instagram, Foursquare e apaga as notificações do celular. Você não quer mais ser aquela pessoa que vive na internet para a internet. Você não queria nem postar mais nesse blog, mas, céus, você ama o seu blog, desde 2006 amando esse blog. Desde fevereiro de 2006, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas.

"Taísa, publique o seu livro sobre o cemitério!". A Carson McCullers nunca publicou um livro sobre cemitério. Fui para Paris esses tempos (R$26 mil em dívidas) e fui em todos os cemitérios da cidade. Honestamente, acho que alguém deveria criar um GPS de túmulos. Achar o do Julio Cortázar não foi fácil, estou até agora tentando achar o do Manet. Se alguém que estiver lendo este nobre espaço precisar de alguma especialista em arte sacra ou tumular, não se acanhe em me escrever. Tenho entendido cada vez mais sobre Igrejas, mas meu forte ainda são os cemitérios. Sabe, não sou daquelas que mente no currículo.

Será que um dia voltarei para o mercado de trabalho? Será que voltarei a escrever em uma revista de circulação nacional? Será que um dia terei dinheiro pra conhecer os cemitérios de Praga? De acordo com os livros de autoajuda que folheei no Conjunto Nacional, só depende de mim. Ah, mas como eu sentirei falta do pão de queijo da empresa, a verdadeira Madeleine proustiana. A proteína de soja também era ótima. Talvez eu nunca supere essa demissão e vá morar lá com o João de Deus ou com o Inri Cristo ou com a minha mãe, tudo é tão confuso.

Por falar em mãe, ela acabou de me mandar SMS dizendo que "acende uma vela por dia para eu sair dessa vida", não entendi de qual vida que ela quer que eu saia. Nunca largarei o Jornalismo, acho. O prazer que eu sentia quando um texto meu não voltava todo pintado de vermelho ou quando meu editor sublinhava uma frase e desenhava uma estrelinha. Nossa, era tão lindo. Também sinto falta dos dias em que ele me chamava para conversar com a maior cara de meu-deus-você-é-analfabeta? Ah, que saudade das coisas que aconteceram antes de ontem. O saudosismo de quem tem 26 anos é assim. Alguém deve ter explicado esse sentimento em um texto super foda da New Yorker que você leu só até até a página três (de dezessete, afinal, ninguém tem tempo; eu sei).

Falando nisso tudo, amanhã tem aula de francês, paguei seis meses adiantado e a partir de agora me declaro Estudante. Melhor que Desempregada.

6 comentários:

Unknown disse...

Ainda bem que pagou a aula adiantado.

Gregorio Mattos disse...

Oi!

Tudo bem? Cheguei até vocês (tu e teu blog) depois que vi mais um dos posts do Branca no FB.

Ele jurou que seria o melhor blog do dia...E, para ser honesto, tenho lido desde então. E faz uns dias já. Não lembro quando foi!

Branca e eu estudamos juntos na Metodista. Na verdade, ele era meu veterano. Depois, ele foi para a Abril, eu "fui para a Abril", ele saiu, eu "voltei", eu "saí", ele voltou e agora ele saiu de novo!

Outro dia nos encontramos no Prêmio da Arvorezinha! Estávamos concorrendo em categorias diferentes...Ambos "ganharam" o prazer de ver Falabella rouco e, ainda bem, não levamos nada para casa.

Lendo teu blog lembrei porque é tão difícil entrar na Abril e também porque é tão fácil não gostar mais daquele prédio gigante naquela avenida fétida. Gente boa e expulsa! Faz parte da história, né, não?

Tenho ouvido essa música faz uns dias, querendo mandar para alguém só por mandar mesmo e tb para significar alguma coisa. Não há nada sobre punheta ou fotos suas...creep!

Mas acho que era pra vc (ou seus textos) que esse link tava guardado mesmo...

Spoiler: não é Tim, nem Morrissey, nem Nei...é eua! Mas é justo.

http://www.youtube.com/watch?v=Xb9lvUT55co

Bjo e te cuida, Taísa!

Taísa disse...

Nunca ninguém comenta no meu blog, que emoção.

Luisa Nucada disse...

Torcendo de coração para que você volte a ter um emprego de que goste e não abandone o blog nunca.

Boa sorte (porque né, talentosa você já é).

marie. disse...

TAÍSA EU APRENDI QUE SEU NOME É SEM 'H' E ESTOU TENTANDO TE ACHAR UM EMPREGO EM CU-RITIBA. :~~~

marie. disse...

TAÍSA EU APRENDI QUE SEU NOME É SEM 'H' E ESTOU TENTANDO TE ACHAR UM EMPREGO EM CU-RITIBA. :~~~