A grande lição de uma ex-modelo, atual jornalista e futura escritora do Brasil


A melhor coisa que fiz foi comprar um celular da TIM. Ele nunca funciona e ninguém consegue me ligar. Paz, silêncio e impossibilidade de conferir o lixo que assola o Facebook. Nada. Absolutamente nada. Você finalmente se encontrará sozinho quando se tornar um cliente TIM. Não é maravilhoso? Quanta filosofia pode nascer quando as pessoas finalmente calam a boca. As possibilidades são infinitas. Céus, eu poderia gozar.

Haverá quem diga que você nunca atende o celular. Coloque as mãos cintura e diga o quanto o serviço de telefonia é uma porcaria, que a culpa não é sua, coitado do pobre consumidor que paga caro ad infinitum. Melhor, nem se dê o trabalho do cinismo. Explique calma e pausadamente que você não gosta de falar ao telefone ou que não pode atender naquele momento. Acredite, a educação e a sinceridade desarmam qualquer um. Aliás, não recomendo nunca dizer na cara de uma pessoa que você não gosta dela. Até porque você provavelmente não tem nada contra, só não gostaria de ter nada a favor. Lembre-se, a grosseria gratuita é vergonhosa. Não faça papel de vilã mexicana afetada. Nunca fale alto e mexa muito os braços. Ninguém gosta de quem fala alto e mexe muito os braços. Não seja uma pessoa assim. Sério.

Sei lá, eu apenas prefiro me comunicar via email. Será que eu estou pedindo muito? Sempre acesso o email em horários específicos e com o espírito preparado para qualquer coisa. Pode mandar que eu mato no peito. Não tem erro.

Eventualmente filhos do capeta enviarão mensagens, mas você estará preparado. Se você, assim como eu, for daqueles que tem o coração preto e peludo, repleto de rancor, você precisa estar preparado para tudo. Nunca se esqueça disso. A pessoa desajustada emocionalmente não pode se dar ao luxo de agir por impulso. Grandes guerras começam assim. Acho. Ou seja, não precisa abrir o email na hora, o segredo da felicidade é se poupar dessa gente toda, dessas festas todas, da foto do pé na areia curtindo Salvador, daquela última palavra que o cara que te dispensou resolveu dar. Levante da cadeira giratória do seu escritório, tome um café, xingue mentalmente o remetente, responda e siga a sua vida. Eu demorei muito tempo, mas muito tempo mesmo, um tempo que hoje me é caríssimo, para aprender que não preciso fazer média com pessoas que eu não gostaria de ter por perto. Eu era, por insegurança, muito dada. Algo sobre ser muito bonita e vazia, precisar do elogio dos outros, essas coisas. Dada no sentido de simpática, diga-se.

Eu, depois de ir a todos os tipos de festa e fazer todos os tipos de amizade, descobri que não há nada nesse mundo que me faça mais feliz do que ficar em casa fazendo as coisas que eu gosto – ler, escrever, escutar música. Eu tenho uns cinco amigos e eu gosto muito deles. Muito. Talvez eu seja uma das pessoas com mais disponibilidade para amar que eu conheço (amar demais também é doença, vale lembrar). Infelizmente esses amigos moram longe, mas quando possível, gosto de recebê-los na minha casa e ir até a casa deles. Geralmente namoro pessoas – NEM SÓ DE FORAS VIVE TAÍSA SZABATURA, PASMEM – e gosto da companhia delas também. Hoje todo mundo é amigo de todo mundo. Os convites para a vida feliz aparecem aos montes via Facebook. Eu, por alguma razão, não consigo interagir. Demoro para fazer novos amigos. Tenho um monte de defeitos e acabo ignorando muita gente legal que se aproxima etc. Vamos combinar, eu sou uma filha da puta arrogante. Não nego.

Se você for como eu, você eventualmente se sentirá muito sozinho. Uma opção é mudar de personalidade. Vire uma pessoa que aceita tudo. Nenhum preconceito ou restrição. Você aceitará até aquele cara que estufa o peito para dizer que é especialista em Tarantino. Sim, até o cara que estufa o peito para dizer que é especialista em Tarantino. Você aceitará comportamentos muito diferentes dos seus, gostos totalmente opostos. E você achará essa diferença toda bonita, falará que sempre aprende uma coisa nova, que a pluralidade não-sei-o-quê, enfim, você será feliz como uma princesa da Disney.

Se você não conseguir fazer isso, como eu não consegui, a outra opção é admitir que você tem um problema e procurar ajuda psicológica. Tolstói estava completo de razão quando disse que a felicidade só é real quando compartilhada (não estamos falando do Facebook, rs). A mais completa solidão nunca o fará feliz. Ou você se encherá de gatos ou cometerá suicídio. Ou ambos.

Preciso, antes de tudo, aprender a parar de magoar as pessoas que eu gosto. Preciso parar de me afastar de todo mundo, ou pior, dizer as coisas mais cruéis do mundo para que todos se afastem de mim. O meu grande talento é a ofensa. Os meus melhores textos envolvem o meu ódio, a minha raiva, o meu rancor. Sempre que eu coloquei isso no papel, tive um bom retorno, digo, olhei satisfeita para o resultado. O meu texto jornalístico ainda não é bom, o meu texto racional não é bom, mas a minha mágoa rende os frutos da coisa que eu mais gosto de fazer na vida: literatura. Será que se eu tratar o meu ódio, eu perco essa inspiração? Eu decidi correr o risco.

Se você acompanha esse blog desde o começo, saberá que o meu sonho sempre foi trabalhar como jornalista em São Paulo. Bem, eu estou aqui. Veja eu aqui, dê tchauzinho para mim. Estou no emprego dos sonhos, na vida dos sonhos. Eu realmente achei que nunca conseguiria e que morreria trabalhando numa loja de surf na beira da praia. É impressionante olhar para trás. Eu estou feliz, mas terrivelmente sozinha e cada vez mais longe de tudo. Eu não posso abrir mão de tudo que eu conquistei por intolerância, capricho, suposta superioridade mental. Vocês não tem ideia da pressão e do desespero. Alô, Morrissey!

Ontem esse blog completou seis anos, tirando alguns erros de português, eu não me arrependo de nada. Nem do meu comportamento imaturo, julgamentos apressados, nada. Eu dei a cara a tapa nessa tal de internet e aprendi muito. Acho que quase todo mundo que nasceu em 1987 acabou fazendo isso. A partir de agora, deixarei a falta de paciência juvenil que ditou regra nos textos do passado para falar mais honestamente sobre mim. Sobre os meus processos de escrita etc. O acesso será fechado, mas vinde a mim os estudantes de jornalismo, os desajustados, as mulheres problemáticas. Eu acho que entendo sobre isso, podemos trocar figurinhas e tal. Fiquem a vontade para indicar o blog para amigos, se quiserem, claro. Mandem email e jamais liguem. Eu realmente gosto de trocar correspondência. Muito se perdeu quando surgiu o chat, MSN e afins.

Rapidinhas


Maior prazer: minhas aulas de francês.
Segundo maior prazer: Ler e reler Thomas Bernhard.
Terceiro maior prazer: ter virado uma especialista na batalha de Waterloo.
Quarto maior prazer: ter me mudado para uma rua arborizada.
Quinto maior prazer: ter adotado uma dieta saudável.
  

5 comentários:

Daniel disse...

Uma vontade quase incontornável de te ligar.

Luisa Nucada disse...

Posso dizer que sou mais ou menos como você e eventualmente me sinto muito sozinha. Tenho dois grandes amigos, os dois morando longe, um deles ainda não respondeu o email que mandei dia dois de janeiro. A sorte é que estou namorando e não tenho me sentido sozinha. Tô bem feliz, até.

Nunca fiz esforços para agradar ou conviver harmoniosamente com quem não quero ter por perto. Na minha vida, já briguei com umas seis melhores amigas, e nunca mais olhei na cara delas. Sou bastante intolerante, deve ser por isso que tenho poucos amigos. Mas ainda não decidi se quero mudar isso em mim.

Me alegra saber que você está feliz, morando em São Paulo e fazendo o que sempre quis. É bom ver alguém com os mesmos sonhos que os nossos dando certo.

By the way, comecei a ouvir The Smiths por causa do seu blog.

Sorte :)

Taísa disse...

Sim, Luisa, há luz no fim do tunel. E espero que os Smiths mudem a sua vida da maneira como mudaram a minha.

Costa disse...

"Veja eu aqui, dê tchauzinho pra mim". Ri muito com essa sutileza em meio a tantas reflexões.

Unknown disse...

Taísa, para quê o desespero? o Samsung Galaxy tem a tecla de bloqueio de número...Eu me livrei de um bando de malas: uma doida que ligava chorando reclamando do marido chincheiro(as 07hs da manhã, sendo que costumo ir dormir às 05hs), um sujeito dentro do armário que tudo fala "Oiê!!!" e a gerente do BB querendo vender produtos. Poxa, quebra o meu galho: eu só quero ser desajustada, não desesperada!