A melhor
coisa que fiz foi comprar um celular da TIM. Ele nunca funciona e ninguém consegue
me ligar. Paz, silêncio e impossibilidade de conferir o lixo que assola o
Facebook. Nada. Absolutamente nada. Você finalmente se encontrará sozinho
quando se tornar um cliente TIM. Não é maravilhoso? Quanta filosofia pode nascer
quando as pessoas finalmente calam a boca. As possibilidades são infinitas.
Céus, eu poderia gozar.
Haverá
quem diga que você nunca atende o celular. Coloque as mãos cintura e diga o
quanto o serviço de telefonia é uma porcaria, que a culpa não é sua, coitado do
pobre consumidor que paga caro ad
infinitum. Melhor, nem se dê o trabalho do cinismo. Explique calma e pausadamente
que você não gosta de falar ao telefone ou que não pode atender naquele momento.
Acredite, a educação e a sinceridade desarmam qualquer um. Aliás, não recomendo
nunca dizer na cara de uma pessoa que você não gosta dela. Até porque você
provavelmente não tem nada contra, só não gostaria de ter nada a favor. Lembre-se,
a grosseria gratuita é vergonhosa. Não faça papel de vilã mexicana afetada. Nunca
fale alto e mexa muito os braços. Ninguém gosta de quem fala alto e mexe muito
os braços. Não seja uma pessoa assim. Sério.
Sei
lá, eu apenas prefiro me comunicar via email. Será que eu estou pedindo muito? Sempre
acesso o email em horários específicos e com o espírito preparado para qualquer
coisa. Pode mandar que eu mato no peito. Não tem erro.
Eventualmente
filhos do capeta enviarão mensagens, mas você estará preparado. Se você, assim
como eu, for daqueles que tem o coração preto e peludo, repleto de rancor, você
precisa estar preparado para tudo. Nunca se esqueça disso. A pessoa desajustada
emocionalmente não pode se dar ao luxo de agir por impulso. Grandes guerras
começam assim. Acho. Ou seja, não precisa abrir o email na hora, o segredo da
felicidade é se poupar dessa gente toda, dessas festas todas, da foto do pé na
areia curtindo Salvador, daquela última palavra que o cara que te dispensou
resolveu dar. Levante da cadeira giratória do seu escritório, tome um café, xingue
mentalmente o remetente, responda e siga a sua vida. Eu demorei muito tempo,
mas muito tempo mesmo, um tempo que hoje me é caríssimo, para aprender que não
preciso fazer média com pessoas que eu não gostaria de ter por perto. Eu era,
por insegurança, muito dada. Algo sobre ser muito bonita e vazia, precisar do elogio
dos outros, essas coisas. Dada no sentido de simpática, diga-se.
Eu,
depois de ir a todos os tipos de festa e fazer todos os tipos de amizade, descobri
que não há nada nesse mundo que me faça mais feliz do que ficar em casa fazendo
as coisas que eu gosto – ler, escrever, escutar música. Eu tenho uns cinco amigos
e eu gosto muito deles. Muito. Talvez eu seja uma das pessoas com mais
disponibilidade para amar que eu conheço (amar demais também é doença, vale
lembrar). Infelizmente esses amigos moram longe, mas quando possível, gosto de
recebê-los na minha casa e ir até a casa deles. Geralmente namoro pessoas – NEM
SÓ DE FORAS VIVE TAÍSA SZABATURA, PASMEM – e gosto da companhia delas também. Hoje
todo mundo é amigo de todo mundo. Os convites para a vida feliz aparecem aos
montes via Facebook. Eu, por alguma razão, não consigo interagir. Demoro para
fazer novos amigos. Tenho um monte de defeitos e acabo ignorando muita gente
legal que se aproxima etc. Vamos combinar, eu sou uma filha da puta arrogante.
Não nego.
Se
você for como eu, você eventualmente se sentirá muito sozinho. Uma opção é
mudar de personalidade. Vire uma pessoa que aceita tudo. Nenhum preconceito ou
restrição. Você aceitará até aquele cara que estufa o peito para dizer que é
especialista em Tarantino. Sim, até o cara que estufa o peito para dizer que é
especialista em Tarantino. Você aceitará comportamentos muito diferentes dos seus,
gostos totalmente opostos. E você achará essa diferença toda bonita, falará que
sempre aprende uma coisa nova, que a pluralidade não-sei-o-quê, enfim, você
será feliz como uma princesa da Disney.
Se
você não conseguir fazer isso, como eu não consegui, a outra opção é admitir
que você tem um problema e procurar ajuda psicológica. Tolstói estava completo
de razão quando disse que a felicidade só é real quando compartilhada (não
estamos falando do Facebook, rs). A mais completa solidão nunca o fará feliz.
Ou você se encherá de gatos ou cometerá suicídio. Ou ambos.
Preciso,
antes de tudo, aprender a parar de magoar as pessoas que eu gosto. Preciso
parar de me afastar de todo mundo, ou pior, dizer as coisas mais cruéis do mundo
para que todos se afastem de mim. O meu grande talento é a ofensa. Os meus
melhores textos envolvem o meu ódio, a minha raiva, o meu rancor. Sempre que eu
coloquei isso no papel, tive um bom retorno, digo, olhei satisfeita para o
resultado. O meu texto jornalístico ainda não é bom, o meu texto racional não é
bom, mas a minha mágoa rende os frutos da coisa que eu mais gosto de fazer na
vida: literatura. Será que se eu tratar o meu ódio, eu perco essa inspiração?
Eu decidi correr o risco.
Se
você acompanha esse blog desde o começo, saberá que o meu sonho sempre foi
trabalhar como jornalista em São Paulo. Bem, eu estou aqui. Veja eu aqui, dê
tchauzinho para mim. Estou no emprego dos sonhos, na vida dos sonhos. Eu
realmente achei que nunca conseguiria e que morreria trabalhando numa loja de
surf na beira da praia. É impressionante olhar para trás. Eu estou feliz,
mas terrivelmente sozinha e cada vez mais longe de tudo. Eu não posso abrir mão
de tudo que eu conquistei por intolerância, capricho, suposta superioridade
mental. Vocês não tem ideia da pressão e do desespero. Alô, Morrissey!
Ontem
esse blog completou seis anos, tirando alguns erros de português, eu não me
arrependo de nada. Nem do meu comportamento imaturo, julgamentos apressados, nada.
Eu dei a cara a tapa nessa tal de internet e aprendi muito. Acho que quase todo
mundo que nasceu em 1987 acabou fazendo isso. A partir de agora, deixarei a
falta de paciência juvenil que ditou regra nos textos do passado para falar
mais honestamente sobre mim. Sobre os meus processos de escrita etc. O acesso
será fechado, mas vinde a mim os estudantes de jornalismo, os desajustados, as
mulheres problemáticas. Eu acho que entendo sobre isso, podemos trocar
figurinhas e tal. Fiquem a vontade para indicar o blog para amigos, se
quiserem, claro. Mandem email e jamais liguem. Eu realmente gosto de trocar
correspondência. Muito se perdeu quando surgiu o chat, MSN e afins.
Rapidinhas
Maior
prazer: minhas aulas de francês.
Segundo
maior prazer: Ler e reler Thomas Bernhard.
Terceiro
maior prazer: ter virado uma especialista na batalha de Waterloo.
Quarto
maior prazer: ter me mudado para uma rua arborizada.
Quinto
maior prazer: ter adotado uma dieta saudável.
5 comentários:
Uma vontade quase incontornável de te ligar.
Posso dizer que sou mais ou menos como você e eventualmente me sinto muito sozinha. Tenho dois grandes amigos, os dois morando longe, um deles ainda não respondeu o email que mandei dia dois de janeiro. A sorte é que estou namorando e não tenho me sentido sozinha. Tô bem feliz, até.
Nunca fiz esforços para agradar ou conviver harmoniosamente com quem não quero ter por perto. Na minha vida, já briguei com umas seis melhores amigas, e nunca mais olhei na cara delas. Sou bastante intolerante, deve ser por isso que tenho poucos amigos. Mas ainda não decidi se quero mudar isso em mim.
Me alegra saber que você está feliz, morando em São Paulo e fazendo o que sempre quis. É bom ver alguém com os mesmos sonhos que os nossos dando certo.
By the way, comecei a ouvir The Smiths por causa do seu blog.
Sorte :)
Sim, Luisa, há luz no fim do tunel. E espero que os Smiths mudem a sua vida da maneira como mudaram a minha.
"Veja eu aqui, dê tchauzinho pra mim". Ri muito com essa sutileza em meio a tantas reflexões.
Taísa, para quê o desespero? o Samsung Galaxy tem a tecla de bloqueio de número...Eu me livrei de um bando de malas: uma doida que ligava chorando reclamando do marido chincheiro(as 07hs da manhã, sendo que costumo ir dormir às 05hs), um sujeito dentro do armário que tudo fala "Oiê!!!" e a gerente do BB querendo vender produtos. Poxa, quebra o meu galho: eu só quero ser desajustada, não desesperada!
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