Eu não sei quantas postagens comecei com a frase "estou sofrendo", mas dessa vez eu juro por Deus que estou realmente sofrendo. Talvez eu até já tenha começado uma postagem com esse recurso de dizer que estou sofrendo etc., mas agora sim, prometo que sim: é tudo verdade. E eu não estou suportando. Muita dor etc. Grooooove is in the heart, fadiga is in the heart, my heart will go on, you have killed me, love is all that I can give to you, eu amo você menina hello Mariah Carey fase borboletas.
Sabe quando você toma ácido e não consegue voltar? Não precisa ser necessariamente ácido, sabe quando você simplesmente enche a cara de qualquer coisa e quer voltar da bad trip que você está tendo e não consegue voltar da bad trip que você está tendo e você pensa deus eu preciso voltar dessa bad trip que eu estou tendo já é de manhã eu preciso voltar céus que saco como faço para voltar? Sentada no meio fio você diz "eu preciso voltar dessa bad trip que eu estou tendo".
Não que eu tenha feito qualquer coisa dessas de tomar ácido etc., eu vi isso nos filmes, isso de as pessoas quererem voltar da bad trip que estão tendo, vi dos filmes e de histórias de amigos meus. Enfim, estou falando daquele período pós rejeição que você fica com cara de bunda olhando para o seu pé e não consegue não olhar para o seu pé ou deixar de ter cara de bunda. Com pena de si mesma, se culpa por ser gorda, ruim de cama, criança, gorda, chata, ignorante, já falei gorda? Deve ser porque eu sou gorda. E meu pé é feio, não quero mais olhar para ele.
Porém, eu nem sou mais gorda. O sofrimento é tanto que toda vez que coloco alguma comida na boca acho que vou morrer. Perdi sete quilos e meu sutiã tomara que caia já caiu faz tempo. Nada me serve, ando pelada, toda descabelada, foda-se, eu nem queria me vestir mesmo. Também não consigo dormir, meu cabelo começou a cair, sinto enjoo, será que estou grávida? Claro que não, mas seria bacana. Poderia ser aquelas mães solteiras que tiveram um grande amor na vida, fizeram um filho disso e depois nunca mais ficaram com outro homem. Daí toda vez que o filho pergunta "mãe, cadê papai?" a mulher faz uma cara de sofrimento. O filho toma as dores, jura vingança, descobre quem é o pai e o mata. Viu como é bom ter filhos? (Think twice antes do abortinho)
Também pensei em matar eu mesma, tem jornalista que dá tiro pelas costas e demora anos para ser preso. Poderia ser assim, mas quem disse que eu tenho dinheiro para comprar um revólver. Daí você até tem dinheiro só que acaba entrando na livraria Cultura e gasta tudo com livros que não vai conseguir ler porque está na bad trip e tal. Isso de não conseguir ler é o que mais me aborrece, acho tranquilo não comer e nem dormir, mas ler, ter um minutinho de paz para pensar em outra coisa seria muito bacana, é uma pena. É uma pena mesmo. De verdade. Pior ainda são os livros que ele te deu. Você fica procurando mensagens subliminares no enredo, juntando sílabas e somando, se der 12 silabas em tantas linhas ele quis dizer que, bom, sei lá o que ele quis dizer. Estou doidinha. Taísa, pelo amor de Deus, sai dessa.
Você não consegue sair dessa. Beber potencializa tudo e sair com os seus amigos, bom, você não tem muitos amigos, não é mesmo? Daí esses poucos amigos só sabem dizer "MEU NÃO ACREDITO QUE VC AINDA ESTÁ NESSA DE GOSTAR DESSE CARA???" e você acaba se sentindo mal e não sai. Se bem que você nem iria de qualquer forma, só para entrar são R$80, "depois a gente racha estacionamento, fora as bebidas né, podemos sair pra jantar antes também". Oi? Confesso que sou o núcleo pobre da novela, invento que sou rica para fazer amigos e na hora de sair com a turma preciso inventar um grande problema para não sair e tal. No fundo estou sozinha aqui no meu quarto tomando espumante barato do Carrefour como faço todas as sextas-feiras desde que me mudei para São Paulo.
Faço a mesma coisa nos sábados também. Não leio, não durmo, não como, compro o Estadão e não leio; apenas escuto músicas que me destroem (não são aquelas do primeiro parágrafo, rs) e jogo Paciência, céus, eu jogo muita Paciência. Tenho três aplicativos diferentes de Paciência no celular e em um deles eu posso escolher a foto do fundo da carta e daí eu coloquei uma foto do rosto dele, mas daí eu tirei pois ficou meio assustador no sentido de potencializar o lance de assassinato. Depois coloquei a foto de um filhote de gato, ninguém mata ninguém vendo a foto de um filhote de gato. Com o meu sotaque fica bem engraçado falar "filhote". Aliás, já pararam de rir do meu sotaque. Alguma vitória eu tinha que ter.
Tirando tudo isso, gosto muito do meu trabalho. Muito. Enfim, sei lá. Se eu ainda tivesse dinheiro para pagar a minha psicóloga ela diria que essa obsessão por esse cara é apenas uma sabotagem, já que eu consegui tudo o que eu queria etc., que no fundo nem gosto dele, que só gosto dele porque ele não me quer; que se me quisesse eu já estaria em outra etc., mas né, psicólogos não entendem de nada. Taísa, vejo que você está resistindo ao tratamento, fale mais sobre isso. O que realmente doeu foi um texto de um livro que ele postou na internet me humilhando e desmerecendo tudo o que eu sentia. Chorei seis dias seguidos, inventei até uma alergia para poder justificar a razão de o meu rosto ter mudado de formato. Céus, como eu chorei. Nem joguei Paciência naqueles dias, só chorei, quase voltei para Santa Catarina com o rabinho entre as pernas. Daí uma voz divina sussurrou: "você vai desistir de tudo por causa de um cara, Taísa?" e então eu consegui reunir 0,1% de noção e fiquei. Esse 0,1% de noção é tudo o que eu tenho agora.
Eu só queria voltar dessa bad trip que eu estou tendo. Dizem que isso passa e tal, que daqui uns dias vou rir disso tudo, que sou bonita demais pra sofrer tanto assim, que logo vou conhecer outro cara, que mil caras querem ficar comigo e dez milhões de outras razões idiotas que revistas femininas recomendam etc. Porém, em um mundo de pessoas previsíveis, de frases prontas, de "O livro é melhor que o filme", "amo música", "amo ler", "sou escritor", "gosto muito de cinema", ele era o oposto. A minha admiração não tinha limites e eu sempre deixei isso bem claro, até o momento dele mandar eu colocar a minha admiração numa estante junto com os meus falsos conceitos; falou da minha juventude que lhe causava nojo, algo assim, o texto me agrediu de uma forma tão grande que eu nunca consegui ler uma segunda vez para dizer aqui o que realmente estava escrito. Dói bastante escrever sobre isso.
E isso veio quando eu já tinha admitido a derrota, quando já não precisava dizer mais nada, quando já estava tudo resolvido, aquele texto foi a maldade mais clara; o tiro de misericórdia, tão mesquinho e desnecessário, mas por mais que eu tenha qualquer forma de razão, queira dizer "que porra foi aquela?", no texto ele mandava eu ficar "com a minha razão", afinal, não me devia explicação nenhuma, não me devia nada, não se importava. E depois disso tudo eu fiquei na minha, tentei tirar algum humor da minha situação, escutei músicas de corno, principalmente dos anos 80 (segundo a minha psicóloga eu uso o humor para disfarçar a minha insegurança), até que ele voltou a me agredir, uma frase aqui, outra ali, sabendo que eu estaria atenta a cada linha que ele escrevesse. Isso porque eu sou uma idiota, reconheço. Não consigo evitar, sorry. Entretanto, como diria Tim Maia:
"Pelo amor de Deus
Me deixe livre pra pensar
Veja o que me fez
Me fez sofrer me fez chorar
Faça o que quiser
Se já que é isso o que quer
Pelo amor de Deus
Me dê sossego para amar"
Gosto muito da forma como ele fala "Pelo amor de Deus" na abertura da música, tem todo um desespero. O álbum de 1972 tem tocado muito por aqui. "Não apelo mais". Essa postagem, acredite, não é uma apelação, nem um tratado de vingança, qualquer coisa nesse estilo. Até eu não tenho mais idade para essas coisas. Eu sei que você está lendo, tudo começou por aqui, não é mesmo? Pra mim esse negócio de blog/diário começou como ideia da minha psicóloga, sempre ela, aquela WADEA, que achou que eu conseguiria me expressar melhor e superar os meus dramas dessa forma etc. Sim, eu sou uma pirralha da geração y e todas aquelas coisas que não são tão legais como ter discos de vinil e nascer nos anos 70. Essa sou eu, é uma merda, mas não vou me matar e tal. Meu primeiro blog foi em 2003 e esse foi o que mais durou. Eu conquistei várias coisas bacanas por causa desse espaço e outras nem tanto assim.
Enfim, a rainha do drama em sua mais dramática performance. Voilá. Apenas euzinha sofrendo de verdade em São Paulo, querendo desesperadamente o colo da mãe (e vale lembrar que a minha mãe me odeia). Também achei que fosse mais original do que isso, mas repito: não vou me matar e tal. Se saber idiota não é razão para o suicídio, tudo que os idiotas precisam na vida é de: 01 plano. Eu preciso de um plano. Eu preciso sair dessa. Eu preciso me mudar dessa casa, nunca mais olhar pra essa pia, pra essa garrafa de whisky, doar esses livros, apagar a imagem que eu criei. E no começo eu achava que estava no controle, que era divertido; eu não poderia estar mais enganada. Eu perdi.
"E vou seguir meu caminho triste
Como antes de te conhecer
Porem marcado, humilhado, magoado..."
Poderia mesmo cantar "Sofre" com todas as minhas forças e ter os sentimentos mais fofinhos de vingança, mas meu plano, vocês sabem, é sair dessa. A música é muito boa, entretanto. Agora sou uma pessoa paz e amor, quero que todo mundo seja feliz etc. Sem sarcasmo. Não quero mais indiretas, frases de efeito, sentimentos esperançosos de reconciliação, não quero mais nada, estou exausta. E eu encerro aqui a vontade tão grande que eu sentia de falar sobre esse assunto. Não existe outro assunto, mas eu tenho um plano. A imbecil da psicóloga deve estar com a mão no queixo UHUM ENTENDO MUITO INTERESSANTE MAS COMO VC SE SENTE.
2 comentários:
Ei, eu li. E gostei. Muito. Quer dizer, gostei do texto mas nao do que ele representa, mas você entendeu. Espero que fique tudo bem, de verdade.
Se precisar de ajudas paulistas - sério, deve ser muito foda mudar de cidade -, estamos aí. :)
Putz, lembrei agora que não se usa hífen como substituto de parênteses, e estou falando com uma jornalista, fodeu.
Eu nem sabia dessa regra, cada dia aprendo algo novo. E vou anotar o seu nominho para futuras ajudas, ninguém mandou oferecer.
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