A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas


Essa semana completei um mês em São Paulo. Tudo foi muito divertido, claro. Menos a tentativa de estupro, isso não foi legal, fiquei super chateada etc. Porém, no geral tivemos um bom aproveitamento, altas amizades e festas; mais conhecidos do que amizades, mais sofrimento do que festas, mas no fim das contas estamos todos de parabéns por mais essa empreitada na vida e tal. Era tudo o que queríamos, não é mesmo?

Não, estou sofrendo. Não consigo acertar o café, odeio a cafeteira e eu realmente não soube como agir quando estourou a caixa d’água e alagou todo o quarto. Foi horrível, era véspera da palestra com o João Moreira Salles e eu achei que fosse morrer. Imagina que chato morrer antes de conhecer João Moreira Salles?

Depois de um grande treinamento mental, alguns Dramins e um Tandrilax eu finalmente tinha conseguido dormir. Veja, era muito difícil dormir na noite anterior a palestra, toda uma expectativa, mil perguntas anotadas com a língua pra fora no caderninho etc. Pensem no meu espanto, quando às três da manhã eu acordo com as cataratas do Iguaçu segurando o tchan na minha cozinha. Demorei uns trinta segundos para assimilar o que estava acontecendo.

Caía água pelo alçapão, litros e mais litros em cima do microondas e no chão, um barulho infernal, metade do quarto já estava tomada, eu precisava agir rápido. Ficar abraçada na cafeteira não era uma solução. E na vida eu aprendi que nem sempre temos todas as respostas, por isso liguei pro Guilherme, que é formado em engenharia no ITA, se ele não soubesse o que fazer, eu que sou formada em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Itajaí é que não saberia.

Mandou eu desligar o negócio da água, que eu esqueci agora como se chama, daí desliguei e a água não parou de cair. Registro. Ele mandou desligar o registro. Desliguei o tal do registro e nada. Daí pensei: grandes coisa ser engenheiro. Decidi ligar loucamente para o locatário, já tínhamos cinco baldes cheios (somos várias Taísas, lembra?), muito sofrimento, rodo, panos de chão; com qual cara de exaustão eu estaria no dia seguinte? Nada do locatário, soquei o celular do pobre homem com mensagens de rancor.

De repente bateu o medo de morrer eletrocutada. Tirar tudo da tomada? Ficar no escuro com aquela água toda? Será que tenho que desligar a luz lá no interruptor? O que é um interruptor? Viro todas aquelas tomadinhas fofas para um lado específico? Eu moro nos fundo de uma casa, privaria as minhas companheiras de terreno (duas jornalistas, uma arquiteta e uma intercambista francesa) da luz nossa de cada dia. Seria esse o melhor procedimento? Imaginei todas elas nuas tomando banho na minha goteira. Taísa, foco, ffffffocco, ffffoc, ff, ch-ch-changes turn and face the strange.

Confesso que esse último pensamento acabou me distraindo e eu larguei pra Jesus. Resumindo, caí no sono, nem aí para a própria morte ou para o João Moreira Salles etc. Minto, eu estava super preocupada de não acordar para a palestra, coloquei três celulares e dois relógios para despertar, mas fui acordada pelo locatário às seis da manhã. Ele super preocupado explicando que deixou o celular no carro etc. Eu nem tinha tomado meus remédinhos da manhã e ele já estava com um rodo na mão, tirando o paletó, ligando para não sei quem bem no meio do meu quarto enquanto eu verificava se estava vestida. Do nada ele vira pra mim e diz: “Por que você não desligou o registro?”

Mano, eu desliguei o registro. Daí ele me conta rindo que na casa existem dois registros. “Não é engraçado ter dois registros?”, nossa, super, estou rindo, agora capricha com esse rodo e chupa essa manga que quando eu chegar quero tudo limpinho. “Olha, você tem até aquelas placas amarelas de ‘chão molhado’, que prevenida!”

Pois é, um dia antes eu tinha ganhado uma placa amarela que foi usada na divulgação da Playboy da Carol Castro – “Cuidado, chão babado”. Um dia antes. Carol, eu te amo, mas você me deixou triste, vai ter que recompensar etc. Enfim, vamos falar de coisas sérias? Vocês gostam de apanhar?

Como toda mulher desesperada e insegura, eu curto uns relacionamentos destrutivos (seja de amizade, amor, família etc.). Sei lá, para mim certas coisas ainda são tão difíceis. E de repente você está no chão, curvada, levando vários chutes na barriga enquanto ouve o agressor dizer que você escreve como um Henry Miller, mas se comporta como a Stefanie Meyer. O agressor sorri, é ardiloso,  desmerece seus sentimentos mais sinceros e seus medos, chuta mais um pouco, diz que você é uma idiota através de uma música do Bob Dylan, chuta mais um pouco e daí para, fala que é incompreendido, que é uma das melhores pessoas do mundo, que tudo é muito injusto, mas que você realmente escreve muito bem.

E em vez de levantar do chão e simplesmente ir embora, você fica lá pensando que dessa vez o chute nem foi tão forte, nem doeu, eu aguento, vale a pena, eu gosto dele, é um grande amigo e acha que eu sei escrever. Deus, pra quê? Aliás, o todo poderoso, se fosse bróder e existisse de verdade, teria um serviço de SMS. “Taísa, plmdds, saia já daí, o cara é um fucking asshole. bjo, Jesus”. O lado bom disso tudo é ter amigos de verdade. Finalmente levantei e fui embora. Não estaria sentada agora nessa banquetinha desconfortável ouvindo Morrissey e escrevendo esse texto jóia para vocês. Oh, como você está sentimental hoje!

Estou mesmo e gostaria de contar que esses dias choveu e eu deixei a janela aberta. Daí um gato entrou aqui para se proteger da chuva e deixou as patinhas na parede. Céus, como eu amo essas patinhas marrons. Fico pensando nele aqui dentro having some fun e talvez me passando doenças. Pensa que legal se um dia eu tiver um salário e puder adotar um gato. Nossa, pensa que bacana ter um emprego como repórter e poder adotar não um, mas dois gatos? Daí só precisarei me livrar da mesquinharia da galera, do meu desespero e da minha falta de autoestima. Só vou postar no blog coisas como “Gente, e o preço da Whiskas, hein? Que abuso, eu pago meus impostos”. Vai ser show!!!1 Minto, a verdade é que eu amo São Paulo e me recuso a ir embora, o show já está acontecendo. Os gatos são apenas um plus.

Quase quatro da manhã e eu aqui tomando um iogurte de maça com soja. Poderia estar tomando whisky. Nem contei pra vocês que agora eu tomo whisky puro. Nada muito chique ou literário, é a única coisa para tomar na minha casa, tirando o iogurte e a água da torneira, claro. Daí chego em casa e coloco um pouco no copinho, sento na frente do computador e fico dando F5 no Facebook. Viver não é lindo e cheio de significado?

P.S – Ninguém me bateu de fato, estávamos diante de uma metáfora etc. A última vez que apanhei foi no meu aniversário de 16 anos. Aliás, aproveitar o espaço e mandar um beijo para a minha mãe:

Você quase me matou, bjo.


5 comentários:

Tamara disse...

Eu nem sou JC, mas já mandei essa mensagem pra você, né.

Taísa disse...

Sim, até agradeci aos amiguinhos na postagem.

Flávia disse...

Nem sei o que dizer. Compre panos de chão..?

DEIXA DE BANCA disse...

nada a ver com o post, mas você é a cara da julie christie em darling: a que amou demais (não é pornô).

Taísa disse...

Pornô é legal também.