Um texto que começa sem graça, fica semi-interessante no meio e termina com um clichê profissional que influencirá milhões.
Com exceção da minha prima Jéssica, ninguém celebrou os três anos deste blog. Ninguém me ligou, nem minha mãe, muito menos meu pai, que vejam bem, ainda está buscando conexões em sua mente para descobrir qual é a sutil diferença entre o Google e o Twitter. Pois é. Em minha defesa, eu tentei introduzir meu adorável progenitor no mundo fantástico da internet, mas diante do Desktop ele proferiu uma frase que encerrou sua vontade: "Eu não consigo ver a flexinha". Não importava a resolução; o mouse, quem sabe, era apenas uma desculpa ou uma grande redenção previamente planejada. Eis meu Super Pai e sua visão de pouco alcance. Voltemos ao tema abandono. Quando você percebe que a coisa mais legal que você tem é um blog (gostaria aqui que vocês falassem blog em voz alta e com a boca cheia de cinismo), você vê a quantos zeros à esquerda a sociedade te colocou. Sou uma exímia perdedora, com pê maiúsculo e adoro a vaidade que essa página da internet me proporciona. Desde o primeiro email que recebi dizendo o quanto eu inspirava o dia a dia da pessoa etc., até o o comentário no Twitter do Xico Sá elogiando o título da minha postagem anterior. Já tive feedback de jornalistas, editores, escritores, estudantes, pessoas estranhíssimas, gente que descrevia como se masturbava com os meus textos e ainda outros que escreviam contos relatando encontros fictícios comigo. Tirando os doentes e os psicopatas, sempre dei atenção a todos. E as lésbicas fakes que me adicionam no MSN? Como são queridas, mesmo mentindo para mim. Muito atenciosas, querem saber do meu dia, a roupa que estou vestindo e se eu tenho namorado. Tudo bem que elas ficam tristes quando digo que não vou ligar a webcam, mas na maioria das vezes nos entendemos sem grandes problemas. Também já me impressionei em um nível inexplicável por um rapaz com quem eu trocava emails e até hoje tenho uma pastinha especial no meu Gmail guardando palavras que um dia significaram belas coisas. Nem tudo são flores e diversos xingamentos já foram computados. Resumidamente, as coisas giraram em torno de : puta, filhinha de papai, convencida, arrogante, tua vida é uma merda, este é o pior blog que já vi na minha vida, você até sabe escrever mas não tem repertório, fique longe do meu namorado, vá tomar no seu cu, pseudo-intelectual, vaca, ridícula, dentre outros. Outra grande crítica, a qual dei bastante importância, foi assim: "Essa é a sua vida, não sei pra quê banalizar isso na internet, é tudo que você tem". Se você parar pra pensar isso faz todo o sentido etc. Porém, não nasci para meditar solitariamente na montanha e mastigar a minha rotina em forma de pérolas de sabedoria. Ou ainda: comentar as notícias, os filmes, a política. Vou fazer frase de impacto envolvendo o Arruda? Vou relacionar o suposto tsunami no Havai com o filme "A montanha dos sete abutres"? Vou escrever aquele textinho-vagabundo-clichê que começa assim "Em tempos rápidos de Twitter é difícil ver pessoas se maravilhando com X e Y como eu me maravilho"? Não, meus caros, eu não vou fazer isso. Também não vou culpar a Rede Globo e o Big Brother Brasil por toda a imbecilidade do país. Eu quero ler a sua poesia, quero saber o que aquele filme significou pra você; se ele lembrou daquele cara que sentava na segunda carteira a partir da porta nas aulas do pré-vestibular, quero ler o quanto você se irritou por ter ficado 467 horas na fila do banco. E mais, eu quero ler o seu conto, quero ler como a juventude põe uma história no papel, quero ler aquela postagem embriagada, cheia de erros de português, que faz você rir e se identificar. É isso, eu quero ler esse ineditismo, as maravilhas que só a sua vida particular tem. Claro, use a razão, não dê nome aos bois, aprenda a ser sutil e bola pra frente. Quer fazer um blog político, literário e o escambau. Leia, estude, busque espaço, mas por favor, saia do lugar comum, da opiniãozinha pobre e mediana. Não se tome por uma pessoa que vê coisas que os demais são incapazes de enxergar. Você não é o rei da festa e não é excepcional. Bagagem cultural todo mundo têm, não precisa rebuscar o texto. Quem leu uns cinco livros na vida já sabe identificar se você sabe escrever ou não, apelar para o chavão será sempre uma atitude condenada. Enfim, não tenha medo, não banque a Clarice Lispéctor/Marta Medeiros e vá até URL mais perto de você. Crie um blog. Quem tem um sabe como a literatura pode ficar divertida. Três anos completados e que venham alguns mais.
No mais
Meu saco anda cheio, pedi demissão do emprego dois, fui num show do Calypso, do Bruno e Marrone (pela segunda vez na vida), da Beyónce e de uma banda argentina que tocava cover do Guns and Roses. Quase chorei diante da minha aula de História da Arte e tenho vontade constante de me matar na aula de Radiojornalismo II. Reparem, em algum desses eventos eu nem havia bebido. Sente só o drama. A vida que eu levo, nêgo pensa que é facil.
9 comentários:
Eu citei "A Montanha dos Sete Abutres" durante a cobertura televisiva do terremoto no Haiti. Sue me. :-) E parabéns pelos três anos. Foi bom pra você e tá sendo bom pra nós -não pare! Beijos.
Eu comento, sou digno. Você também.
Deixa de frescura e escreve, porra. É o que tu faz bem.
já que seu blog fez 3 anos podemos comemorar no bar?
diz que siiiiiiim!
Rogério, falando eu filmes, você sabe o quanto eu quero ser você. Assista All About Eve e me bloqueie do Gtalk enquanto ainda há tempo. E é sempre uma honra te ver por aqui. Abraços.
Por mais que eu ou qualquer um diga que não vale a pena o martírio que voce tem diante de seus textos, pois eles pulsam de sinceridade e vida, seria inútil e no mínimo paradoxal, pois sem os seus martírios não há textos, ciclo vicioso etc.
Eu tinha pensando em um monte de coisa inteligente e interessante pra dizer, mas não lembro mais, então tudo que deixo aqui como humilde desconhecido é só o elogio pelo trabalho, sinceridade e amor (no meio de tanta cólera) que há aqui, e que seja, que seja, é você presa nesse turbilhão movediço de consciência que produz tamanha vida. Amém.
Parabéns pelos três anos do blog.
na última visita eu havia lido outros posts e o último(apenas) parágrafo deste...cof cof.
Seu incentivo fez e faz bem a quem pensa em deixar sair de si um cadim de vida escrita.
sou grato pelos SEUS 3 anos de blog.(apesar de só ter nascido aqui, há menos de 2.)
parabéns!
Show do Calypso e do Bruno e Marrone não é fácil. Bebe mais.
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