Toda mulherzinha que se acha escritora quer ser a chata da Clarice Lispector. Ficam com aquele lenga lenga de amor nos reconcavos da feminilidade e etc. Combinam suas paixões com atitudes animalescas e dão a frase como encerrada; o amor que fere, rasteja, ou mata. A proposta é essa: sentir sabe se lá o quê. E claro, além de sentir, escrever sobre isso. Sobra aquele texto menstruação, cheio de dedos e conversa fiada. Pouco conteúdo e muito sentimentalismo barato.
Vai dizer que você nunca entrou no blog daquela prima da menina que você está ficando e leu algo assim: "Estou conhecendo o inferno da paixão. Não sei que nome dar ao que me toma, ou ao que estou com voracidade tomando, senão de paixão. O que é isso que é tão violento que me faz pedir clemência a mim mesmo? É a vontade de destruir, como se para este momento de destruir eu tivesse nascido.” E olhe que essas linhas em itálico são do próprio punho da Clarice, só enganei o bobo na exemplo da prima. (Leia aqui na íntegra)
Antes de vocês acenderem as tochas flamejantes em minha caçada, preciso esclarecer; Clarice Lispector não é ruim, só não é o que há de mais satisfatório em literatura feminina. Quem nunca curtiu uma boa frase de impacto que atire a primeira pedra, mas ficar nessa pra sempre e se chamar de feminista também é um exagero. Pra mim, escritora de verdade é aquela que não deixa transparecer que é mulher, e se deixa, se apresenta de uma forma não caricata.
Ou ainda, para ser compreensiva, seja bastante caricata, fale de traição, amor, ciúme, leia todas as canções da Alcione em voz alta mas do it with class. Não estou dizendo como uma garota deve escrever, só estou tentando mostrar que o lugar comum e o óbvio nem sempre constroem belas frases. O rebuscamento também empobrece. Encontrei pelos blogs da vida uma suposta carta de suicídio, escrita por uma mulher, que antes de se matar matou também o marido. Acredito que ela seja uma pequena demosntraçao de como uma mulher poderia simplificar seus sentimentos:
"Matei porque não aguentava mais. Estou cansada e não vou deixar ele para ninguém; não será meu mas também não será da Claudete. Carlos, o documento está assinado na frasquera e é só você passar o carro para o seu nome.
Adeus.
Maria
Amo vocês, mas estou morrendo aos pouco desde o dia que encontrei aquela mulher com ele no carro."
Dica: seja simples, vá direto ao ponto e ainda se preocupe com a partilha dos bens.
7 comentários:
Perfeira a carta de suicídio.
Apesar da apropriação indepta dos textos da Clarisse, ela não deixa de ser uma grande escritora, dona de uma prosa forte.
Inclusive ela não era nem um pouco sentimentalista, isso tudo é uma puta deturpação.
Mas enfim, gosto do seus textos.
E a foto do Marlon é montagem, tenho amigos de profissão que fariam melhor até...
Adorei o texto!!
Em relação ao que você escreveu sobre sentimentalismo, não poderia concordar mais.
Aliás, sempre pensei que sentimentalismo é uma coisa um pouco limitada. Se você parar pra pensar, quais sentimentos são sempre expressos? Amor, raiva, medo, angústia...
Se você contar o número de sentimentos vai dar uma coisa em torno de uns 13 ou 14 (ou sei lá). Mas só de pensar que você fica preso aos lugares comuns bem definidos desses 13 ou 14 elementos já faz com que tudo que se valha disso seja também bastante limitado.
No mais, eis que surgiu uma dúvida:
Romeu deixou testamento?
juro que vi um orkut hoje de uma guria que dizia assim nos livros:
amo CARISSE LISPETO! adoro!
Taísa Fucking Szabatura, eu - leitoríssima de Sylvia Plath - estou me sentindo super in no seu conceito mulherzinha sentimental desprezível. Pensando assim, meu blog chega a melar... Humpf! Só de desgosto, darei indiretas em sala do tipo:
"Quando a Taísa está com a pá virada, fala mal dos outros no seu blog".
Tenho até quem me apóie nessa causa! Hã!?
Só não me bate que eu tenho medo. Você é muito alta...
hahahah
beijo e até amanhã com nossas colegas "preciso de valium" de letras ;D
Ah, você tá mais pra cronista, pode sair do meu conceito de mulherzinha. E além de tudo, você habita a minha mais alta estima, ou você acha que sento do seu lado na faculdade pq?
E pare de matar Letras. Eu e a Tamara às 8:30 da manha bem lindas lá em Itajaí...E vc? anh? anh?
O negócio é escrever de forma original, mesmo sobre todos aqueles sentimentalismos rsrs Não nos imaginemos Clarices, SilvIAS ou afins, apenas escrevamos...Beijo !
Esta é minha 1ª intrusão aqui. E gostei. Daria um artigo acadêmico do tipo "Clarice revisitada", rsrs.
No entanto, esse post me faz pensar numa espécie de "mal-do-século" que nos tem atingido: a necessidade de passar uma capa de insensibilidade sobre as relações (incluindo coleguismos, amizades e afins). Num relacionamento, temos, em vez de homem e mulher, o esgrimista e a editora de revista de moda, ostentando cada um um poder que na verdade não têm.
Mas, apesar de achar que Clarice foi uma das poucas pessoas que conseguiram expor o sentimentalismo de maneira menos exagerada, barraqueira, gosto de ver um(a) canônico(a) da "Magnífica Literatura Brasileira" ser exposto(a) por um viés menos transigente.
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