Como se comportar diante de um decote?

Sempre digo que tenho muitas coisas para fazer, que trabalho como um cão e que não tenho dinheiro pra nada. O problema é que isso é a mais pura verdade. A última vez que senti algum prazer foi em dezembro passado quando comi um pacote de Doritos de 400g em menos de meia hora. Aliás, eis o questionamento: se eu comer só Doritos e tomar um comprimido de Centrum todos os dias, tudo bem? Porque é essa a dieta que eu quero seguir. Doritos e Centrum. Li a bula dessas vitaminas e lá está escrito que terei 100% de todos os nutrientes diários que um ser humano precisa. Fora que Doritos não contém glúten, algo que, segundo todas as revistas de boa forma que comprei numa crise de ansiedade, é ótimo para o organismo.

Falando nisso, perdi 12 quilos nesse ano e ninguém notou. Fui demitida da empresa x em agosto e fui readmitida esses dias e ninguém notou nada. Jesus amado, quando foi que as pessoas perderam o amor uma pelas outras? Um elogio vai matar? E, vejam, eu nem fazia questão de emagrecer. Eu queria deixar de ser sedentária. Foi meio sem querer que perdi tanto peso.

Tudo que fiz foi caminhar numa esteira ouvindo Depeche Mode e, por gostar muito de Depeche Mode, andei o suficiente, acho. Algumas vezes corri, confesso. Entretanto, o que eu queria mesmo era conversar com pessoas do mercado editorial que não fossem afetadas ou pedantes. Pessoas como eu você que topassem uma cerveja amiga para falar sobre quais as probabilidades de um livro meu ser publicado por alguma editora; se meu texto é legalzinho, etc. Como será que publica um e-book? Será que consigo publicar pelo celular?  Reach out and touch faith. 

Resumindo, agora estou tão magra que preciso ganhar massa muscular para engordar ou apenas engordar. Acharia legal a primeira opção, algo me faz apostar na segunda. Tenho exames para fazer, talvez eu esteja morrendo, mas o médico disse que é apenas rotina.

Por causa do emprego novo na empresa x, não poderei continuar com a coluna na revista y. Sei que é triste, mas depois de chorar por dias em posição fetal, fiz uma escolha. Agora vocês poderão comprar a publicação somente para ver as mulheres sem roupa da revista y, já que meu ego tem certeza que vocês compravam pelos meus textos. Aguardem novidades. (Papo de sub-celebridade que não tem nenhum projeto em vista, eu realmente não tenho.)

Sigo devendo doze mil reais para o Itaú. Pago a parcela todo mês com aquela cara de mulher-independente-Beyoncé que paga suas contas sem nunca atrasar , passam os meses, e sigo devendo doze mil reais. Esse negócio de juros é algo realmente bonito de se ver, é tipo a multiplicação dos pães, mas sem o pão (que tem glúten). Se eu não tivesse cursado Jornalismo e Letras, cursaria Economia até o segundo semestre, acho. Durante o terceiro, teria cometido suicídio numa aula de cálculo qualquer. Minha história, felizmente acredito, é outra. Aliás, amo a minha história. Uma menina tão inocente do interior que vem para a cidade grande realizar os seus sonhos e os realiza parcialmente após quase morrer de tanto tentar.

Caras, se meu romance não emplacar, vou escrever um livro de autoajuda para pessoas que semi-venceram tardiamente na vida. Vejam, tenho 27 anos e as pessoas ao meu redor têm 22 anos ou menos. Eu me sinto velha sendo nova, começo a ver uma galera muito mais novinha passar por mim. Sabe gente que eu batia na escola? Eu era a novinha! Eu ainda quero ser a novinha cheia de sonhos e ambições. O lado bom é que talvez eu ainda seja, dizem que 27 são os novos 17. Fora que não ligo para cargos ou salários, nem sei acessar meu holerite. Já disse antes e repito, o dia em que eu parar de dever para o Itaú, meu ser estará destruído. Minha divida é a minha pedra filosofal.

Faço parte dessa geração que ninguém para de falar sobre, eu mesma não paro de falar nela, vamos falar nela, vamos falar nela, vamos falar nela, vamos nela, vamos falar nela, vamos falar nela, vamos falar nela, e somos ambiciosos, queremos fama, fortuna e glória. Eu só queria 12 mil reais, publicar meu livro e não ser demitida de novo.

Minto, eu queria muito um cachorro. E depilação a laser. Também acharia legal ter essas canetas chiques da Mont Blanc (não sei escrever). Perderia a tal caneta no segundo dia, mas adoraria ter uma, de verdade. Aliás, comecei a perder todas as coisas e a esquecer tudo. Entro no banho e não consigo saber se já passei condicionador ou não, fico surpreendida quando chega a sexta-feira porque não lembro de ter visto a semana passar. Perdi ainda todos os meus cartões de crédito e depois ainda perdi o cartão provisório de débito que o banco me deu enquanto eu aguardava a chegada dos cartões novos. Teve uma vez, isso em janeiro agora, que perdi meu cartão da poupança e bilhete único e só fiquei sabendo quando uma moça me adicionou no Facebook tentando devolvê-los. Uma fofa.

Apesar do meu médico garantir que não tenho esquizofrenia ou déficit de atenção, vivo num mundo só meu, cheio de histórias, diálogos dramáticos e desfechos brilhantes onde eu luto karatê e arrebento a cara de todo mundo que já me fez mal. Brasil, eu não sei fazer nada além de escrever e contar histórias. Mentira, aprendi a fazer muitas coisas legais durante a vida, por exemplo, consigo deslocar meu osso do quadril quando  estou deitada de lado. Ele volta no lugar depois.

Minha professora de Francês diz que tenho facilidade com idiomas, mas acho que ela só quer saber do dinheiro das aulas, não sei. Tenho muito amor por ela. Amor mesmo. Ela que tanto me maltrata. Eu amo a minha professora de francês e vou gritar para todo mundo ouvir. Menos para ela, porque seria estranho.

7 comentários:

Unknown disse...

Eu notei que você foi readmitida, em 1º de abril! Você está supervalorizando essa lance de publicar livro. Um idiota que trabalha comigo publicou um livro. Pagou 12 mil reais para a Editora e está com todos os livros encalhados. Ele precisava da publicação para entrar no mestrado. Só que nem passou na prova. Melhor ser excelente escritora que nunca lançou um livro do que isso, um barnabé que escreve processo "paralizado" cheio de livros em casa.

Luisa Nucada disse...

Eu também notei que você foi readmitida (parabéns!), fiz um perfil no LinkedIn esses dias. Que pena que você não vai mais escrever pra revista y, que nada a ver, as duas revistas não são da mesma editora? E seu post me lembrou a Hannah, de Girls (acho que isso é um elogio). Vou ouvir esse Depeche Mode pra ver se eu gosto. Beijos e continue tentando publicar seu romance.

Taísa disse...

Sim, Luisa, são da mesma editora, porém, a revista que estou agora exige exclusividade. Também gosto de me comparar com a Hanna, temos problemas similares. Um beijos. <3

Unknown disse...

Boa noite! Gostei do seu texto, achei meio verborrágico mas pode ser porque estou com sono. Se você tiver essa mesma vontade de falar que tem de escrever e não tiver nenhum amigo por perto ligue para o CVV, telefone 141, 24 horas, 7 dias por semana. www.cvv.org.br

Unknown disse...

Me identifiquei tanto com você que me sinto menos mal por ser eu mesmo.
Achei coerente amar São Paulo e procurar um psiquiatra, e só sinto porque gosta de Depeche Mode.

Taísa disse...

SÓ GENTE DO BEM PODERÁ COMENTAR NESSA PÁGINA. DELETAREI TODO O RESTO.

Fe_9 disse...

Oi, primeira coisa que fiz quando chegou a revista Y, foi procurar a sua coluna...
Vou acompanhar mais o blog desde que vc atualize tbm...
Obrigado pelos textos...
felicidades...