O tenebroso suplício de uma alma completamente alheia a todo sentido de Humanidade

Sempre quando digo que adoro cemitérios alguém me pergunta:


Ai que legal, você já foi no da Argentina?


Daí eu faço uma carinha sexy de derrota e digo:


– Não, ainda não fui. Quem sabe um dia...


Mas sabe o que eu queria dizer? Eu queria dizer que, por mais que eu não tenha ido, eu tenho um livro com todas as obras fotografadas e catalogadas. E mais, eu diria que eu decorei esse livro. Esse livro sou eu. Balanço pra frente e para trás segurando esse livro enquanto canto pelada todas as canções do musical "Evita" de trás para a frente no estilo mais satânico. E quando eu for rica e tiver dinheiro para ir para a Argentina, eu vou apreciar o cemitério e não ir just for fun como você. Cemitério é coisa séria. E se você foi pra França, por favor, guarde pra você. Ou fique twittando que nem um idiota coisas como "Estou aqui tomando um café na Torre Eiffel", ou melhor, crie até uma #hashtag no estilo #IS2Paris, fale todas as merdas clichês das quais a gente adora rir em segredo, mas não venha me falar que você foi no Pére Lechaise e achou "superlegal". Eu sinto ódio, eu sinto inveja, eu seguro o meu Tchan para não te dar um soco na cara.


Mas eu digo "Puxa, que legal que você foi no cemitério, bacana né?"


E cemitério também é uma coisa legal por causa das pessoas que fazem o Sinal da Cruz. Eu particularmente sou muito fã do Sinal da Cruz, não faço abdominal mas faço o sinal da cruz. Acho, inclusive, "superdesrespeitoso" quem faz o Sinal da Cruz apenas na área da cabeça. "Em nome do pai" na testa, ok; "em nome do Filho" no queixo. Sério, bróder, no queixo? Será que vale no queixo? "E do Espírito Santo", na direção das orelhas!! Na direção das orelhas, céus, e depois ainda beija a mão!


Outra coisa que é importante ressaltar: pessoas que gostam de cemitério (arte tumular/cemiterial/sacra, arquitetura etc.) não sentem vontade de fazer sexo com cadáveres. Sério, nós não sentimos. Portanto, "superdeselegante" falar isso. Também não ficamos felizes quando um familiar seu morre, nós não precisamos de um convite para ir no cemitério. Já fazer sexo dentro de cemitérios é algo que varia entre os amantes das necrópoles. Acho "supercafona" isso de dar em público e sempre faço um Sinal da Cruz quando vejo alguma bunda dando sopa. Tipo, eu não vim para o cemitério para ver bunda.


Eu não sei se vocês sabem, mas eu escrevi um livro-reportagem sobre um cemitério, daí por isso que eu falo um monte sobre cemitérios. Porém, juro que podemos falar de outra coisa. Eu sei falar de várias outras coisas. Eu sei falar de seriados (de vampiros ou não), eu sei falar de vários filmes, eu sei falar da novela das seis que acabou na semana passada, eu sei falar da tinta que eu passo no meu cabelo, eu sei falar até daquele sapato da Arezzo "superbacana" que é feito de corda ou algo assim. O problema é que eu não gosto de falar dessas coisas. Tá, de vampiro eu até me divirto um pouquinho, mas não muito.


Às vezes eu até me pergunto: sobre o que as pessoas conversavam antes dos seriados americanos? Daí sempre tem alguém que fala "Falaninho é tão inteligente, assiste a todas as séries". Nossa. Puxa. Bacana. Afinal, "superhumorinteligente" Two and a Half Men e Friends. E quão bizarro são essas gentes que começaram a ver Friends esses dias e dizem coisas como "Nossa, eu amo a Rachel" em pleno 2011? Papo podre, começo a suar. Eu não gosto desses assuntos, eu pego a minha bolsa e vou embora do bar. Talvez eu não goste de vocês.


Daí tem o bróder da galera que diz "Ai Taísa, você é 'supergrossa', a gente tem que se amar, se respeitar. Fulaninha ama a Rachel e você ama cemitérios. Dá pra gente viver em harmonia, os pássaros, a natureza, as músicas do Jack Jonhson etc.". Eu apenas lhes pergunto: como viver com gente assim? Como? "Ai Taísa, você é 'superarrogante', ninguém é melhor do que ninguém, pássaros, natureza, as músicas do Jack Johnson etc."


Tem aí toda uma poesia. Uma poesia ruim do caralho. E tudo que eu quero é me mudar de cidade. Provavelmente na nova cidade eu ficarei em casa postando nesse blog, mas pelo menos vai ser uma outra cidade. Um outro IP, toda uma vida. Eu falo mal da Clarice Lispéctor, mas se ela cantasse uma música pra mim, ela me cantaria aquela do Fernando & Sorocaba que diz assim "Você finge que me odeia, mas no fundo paga pau". Bem nessas, Clarice, mas nem vou falar de você aqui no finalzinho, mas tem uns textos seus que tem me ajudado a suportar a "vaibe".


Tá puxado. Agora pode discorrer todo um artigo sobre como os jovens estão individualistas, mimados, egocentristas etc. Todo mundo vai querer ler e resgatar os valores da família.

Um comentário:

Daniel disse...

Eu, no fundo, pago pau.