Quarta-feira passada acordei toda manhosa e com aquela vontade de morrer como faço todos os dias. Porém, subitamente percebi que meus olhos estavam estranhos. Pensei "Ah, dormi mal de novo" e só, coloquei uma roupinha sensual e fui trabalhar. No decorrer do dia aquilo foi piorando e começou a sair uma parada nojenta parecida com sêmem do meu olho. Tá não era parecida com sêmem, mas eu adoro escrever sêmem. Sêmem, sêmem, sêmem, biscoito.
Resolvi ignorar o problema e voltei a fazer minhas atividades diárias etc. De repente, senti um bela de uma coceira no olho, taquei a mão e passei a esfregar o rosto loucamente. Resultado: meu olho direito começou a sangrar. Daí claro que comecei a chorar e enquanto chorava tentava ligar para a minha irmã e enquanto tentava ligar para a minha irmã colocava meu tênis de ginástica para correr até o posto de saúde.
Saí correndo, não vi nada e nem ninguém, e quando dei por mim estava na enfermaria falando (e chorando loucamente) algo mais ou menos assim para a enfermeira:
- MOÇA, EU NÃO POSSO FICAR CEGA, COMO É QUE EU VOU ESCREVER! EU SEI QUE É BOBO, MAS EU QUERO VIVER DISSO! EU NÃO TENHO HABILIDADE PARA APRENDER BRAILE. MOÇA, EU ME SINTO TÃO SOZINHA, NÃO CONSIGO FALAR COM A MINHA IRMÃ, MINHA VIDA É HORRÍVEL ETC ETC ETC.
Como vocês sabem, não posso ver nêgo de jaleco que acho que é um psicólogo querendo me ajudar, vou logo me abrindo e contando tudo até a última ponta. Pois é, mas a enfermeira, muito querida, pediu para que eu ficasse calma que existia uma doença chamada conjuntivite e que não era nada muito grave. No entanto, eu não poderia mais esfregar nada. (Fiquei com muito nojo de mim mesma. De verdade.)
Daí ela falou que o médico iria começar a atender às quatro da tarde (olhei no relógio:13h), mas que eu teria que fazer o meu cadastro primeiro. Eu não tinha nenhum comprovante de residência comigo e nem por muito dinheiro eu voltaria até a minha distante residência para buscar uma conta de luz. Nesse momento eu já havia desistido de ligar para minha irmã: admiti, eu estava naquilo sozinha. Perguntei pro moçinho da recepção se poderia imprimir um boleto da faculdade (tem o endereço no boleto) para usar como comprovante de residência e ele deixou. Simples, só ir numa lan house, imprimir e voltar. Acontece que eu não tinha dinheiro para pagar nenhuma lan house.
No meio da rua o chororô veio novamente, mas daí eu tive uma ideia: eu iria pedir dinheiro na rua para as pessoas. Depois tive uma ideia melhor ainda: eu iria explicar a situação para o cara da lan house, que eu só poderia ser atendida no postinho se tivesse um comprovante de residência, e que depois eu voltaria para pagar. Só que vejam, eu estava chorando, suada, cega, desesperada e quando fui abrir a boca para o cara da lan house expliquei tudo errado, chorei, contei meus problemas etc, queria deixar todos os meus cartões de crédito (todos estourados e devidamente bloqueados pelo Santander) como forma de garantia que eu iria voltar para pagar, mas ele foi super gentil e imprimiu o boleto para mim. Daí eu perguntei quanto que tinha custado a operação e ele disse: cinquenta centavos. E não é que eu tinha cinquenta centavos na minha bolsa? Todo aquele escândalo tinha sido em vão.
Superado esse problema, voltei para o postinho e peguei a senha para fazer o cadastro, tinha umas dezesseis pessoas na minha frente, isso apenas para o cadastro. Fiz meu cadastro, mas faltava pegar o 'protocolo' para que o médico de fato pudesse me atender. Ok. Fui na sala da porta de vidro indicada, peguei o protocolo e fui na sala de espera do clínico geral. Ali só umas dezessete na minha frente, fiz até amizade com outra moça que também estava com a tal da conjuntivite. Demorou, mas nesse meio tempo troquei mensagens com um rapaz e fiquei alegre. Ponto alto do assunto: "Ah, meu pai é médico", daí eu disse "Legal, meu pai é alcoolatra".
De repente o médico saiu da sala e foi lá para os fundos. Essa movimentação chamou a minha atenção por duas razões: onde é que ele estava indo, afinal eu estava esperando por atendimento, e a outra era pelo fato de ele estar com as pernas totalmente atrofiadas e se mover lentamente com a ajuda de duas muletas. Pensei: alguém precisa medicar esse cara, mas daí pensei de novo; eu estava era sendo uma preconceituosa, ele deveria ter alguma deficiência etc e life goes on, ele claro, poderia ser médico normalmente. (Entretando, duvido que possa ser alcoolatra)
Finalmente depois de cinco horas nessa vibe eu fui atendida. O médico era um belíssimo humorista, disse que eu era rica e que meninas bonitas e ricas como eu não pegam conjuntivite. Falei que estava com muita dor de garganta também, e ele, por cima da mesa do escritoriozinho da sala, (como será que ele examina as pessoas com as muletas?) pegou uma lanterna e mandou eu abrir a boca. Fez cara feia para o que viu. Achei que fosse morrer ali. Daí ele começou a me receitar 924752075543759 remédios e eu só pensando "DEUS, COMO É QUE EU VOU PAGAR POR ESSES REMÉDIOS?". Resolvi perguntar bem inocente: "São muito caros esses remédios?". Ele disse que era só eu ir ali na farmácia do postinho que eu iria ganhar tudo de graça. Talvez eu não devesse ser ateia.
A mocinha da farmácia também foi uma fofa, me deu todos os remédios, uns seis diferentes, mais o colírio satânico que ardeu mais que tudo. Ganhei até um litro de soro fisiológico, foi legal. Adoro presentes. Finalmente voltei pra casa e encontrei a maior pia de louça suja da cidade. Tudo bem, coloquei uns óculos escuros e mãos a obra. Sem nenhuma razão comecei a chorar (de se afogar) enquanto ensaboava uma panela. Minha irmã chega em casa e me encontra daquele jeito e faz a maior cara de preocupação. Certeza que para ela alguém tinha morrido. Falei que tinha ligado o dia todo e que o celular só dava desligado e que eu me desesperei, mas que estava melhor agora etc. Depois de um tempo ela começou a rir. Acredito até que ela estava rindo de mim. Insensível.
E essa foi a maior movimentação social da minha vida dos últimos meses, ganhei um atestado médico eterno, que emendou no fim de semana, e fiquei lá dopada, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas. Eu lamento muito por tê-los enganado no título. Supus que ninguém gostaria de ler um texto sobre conjuntivite, daí banquei a malandrinha.
Resolvi ignorar o problema e voltei a fazer minhas atividades diárias etc. De repente, senti um bela de uma coceira no olho, taquei a mão e passei a esfregar o rosto loucamente. Resultado: meu olho direito começou a sangrar. Daí claro que comecei a chorar e enquanto chorava tentava ligar para a minha irmã e enquanto tentava ligar para a minha irmã colocava meu tênis de ginástica para correr até o posto de saúde.
Saí correndo, não vi nada e nem ninguém, e quando dei por mim estava na enfermaria falando (e chorando loucamente) algo mais ou menos assim para a enfermeira:
- MOÇA, EU NÃO POSSO FICAR CEGA, COMO É QUE EU VOU ESCREVER! EU SEI QUE É BOBO, MAS EU QUERO VIVER DISSO! EU NÃO TENHO HABILIDADE PARA APRENDER BRAILE. MOÇA, EU ME SINTO TÃO SOZINHA, NÃO CONSIGO FALAR COM A MINHA IRMÃ, MINHA VIDA É HORRÍVEL ETC ETC ETC.
Como vocês sabem, não posso ver nêgo de jaleco que acho que é um psicólogo querendo me ajudar, vou logo me abrindo e contando tudo até a última ponta. Pois é, mas a enfermeira, muito querida, pediu para que eu ficasse calma que existia uma doença chamada conjuntivite e que não era nada muito grave. No entanto, eu não poderia mais esfregar nada. (Fiquei com muito nojo de mim mesma. De verdade.)
Daí ela falou que o médico iria começar a atender às quatro da tarde (olhei no relógio:13h), mas que eu teria que fazer o meu cadastro primeiro. Eu não tinha nenhum comprovante de residência comigo e nem por muito dinheiro eu voltaria até a minha distante residência para buscar uma conta de luz. Nesse momento eu já havia desistido de ligar para minha irmã: admiti, eu estava naquilo sozinha. Perguntei pro moçinho da recepção se poderia imprimir um boleto da faculdade (tem o endereço no boleto) para usar como comprovante de residência e ele deixou. Simples, só ir numa lan house, imprimir e voltar. Acontece que eu não tinha dinheiro para pagar nenhuma lan house.
No meio da rua o chororô veio novamente, mas daí eu tive uma ideia: eu iria pedir dinheiro na rua para as pessoas. Depois tive uma ideia melhor ainda: eu iria explicar a situação para o cara da lan house, que eu só poderia ser atendida no postinho se tivesse um comprovante de residência, e que depois eu voltaria para pagar. Só que vejam, eu estava chorando, suada, cega, desesperada e quando fui abrir a boca para o cara da lan house expliquei tudo errado, chorei, contei meus problemas etc, queria deixar todos os meus cartões de crédito (todos estourados e devidamente bloqueados pelo Santander) como forma de garantia que eu iria voltar para pagar, mas ele foi super gentil e imprimiu o boleto para mim. Daí eu perguntei quanto que tinha custado a operação e ele disse: cinquenta centavos. E não é que eu tinha cinquenta centavos na minha bolsa? Todo aquele escândalo tinha sido em vão.
Superado esse problema, voltei para o postinho e peguei a senha para fazer o cadastro, tinha umas dezesseis pessoas na minha frente, isso apenas para o cadastro. Fiz meu cadastro, mas faltava pegar o 'protocolo' para que o médico de fato pudesse me atender. Ok. Fui na sala da porta de vidro indicada, peguei o protocolo e fui na sala de espera do clínico geral. Ali só umas dezessete na minha frente, fiz até amizade com outra moça que também estava com a tal da conjuntivite. Demorou, mas nesse meio tempo troquei mensagens com um rapaz e fiquei alegre. Ponto alto do assunto: "Ah, meu pai é médico", daí eu disse "Legal, meu pai é alcoolatra".
De repente o médico saiu da sala e foi lá para os fundos. Essa movimentação chamou a minha atenção por duas razões: onde é que ele estava indo, afinal eu estava esperando por atendimento, e a outra era pelo fato de ele estar com as pernas totalmente atrofiadas e se mover lentamente com a ajuda de duas muletas. Pensei: alguém precisa medicar esse cara, mas daí pensei de novo; eu estava era sendo uma preconceituosa, ele deveria ter alguma deficiência etc e life goes on, ele claro, poderia ser médico normalmente. (Entretando, duvido que possa ser alcoolatra)
Finalmente depois de cinco horas nessa vibe eu fui atendida. O médico era um belíssimo humorista, disse que eu era rica e que meninas bonitas e ricas como eu não pegam conjuntivite. Falei que estava com muita dor de garganta também, e ele, por cima da mesa do escritoriozinho da sala, (como será que ele examina as pessoas com as muletas?) pegou uma lanterna e mandou eu abrir a boca. Fez cara feia para o que viu. Achei que fosse morrer ali. Daí ele começou a me receitar 924752075543759 remédios e eu só pensando "DEUS, COMO É QUE EU VOU PAGAR POR ESSES REMÉDIOS?". Resolvi perguntar bem inocente: "São muito caros esses remédios?". Ele disse que era só eu ir ali na farmácia do postinho que eu iria ganhar tudo de graça. Talvez eu não devesse ser ateia.
A mocinha da farmácia também foi uma fofa, me deu todos os remédios, uns seis diferentes, mais o colírio satânico que ardeu mais que tudo. Ganhei até um litro de soro fisiológico, foi legal. Adoro presentes. Finalmente voltei pra casa e encontrei a maior pia de louça suja da cidade. Tudo bem, coloquei uns óculos escuros e mãos a obra. Sem nenhuma razão comecei a chorar (de se afogar) enquanto ensaboava uma panela. Minha irmã chega em casa e me encontra daquele jeito e faz a maior cara de preocupação. Certeza que para ela alguém tinha morrido. Falei que tinha ligado o dia todo e que o celular só dava desligado e que eu me desesperei, mas que estava melhor agora etc. Depois de um tempo ela começou a rir. Acredito até que ela estava rindo de mim. Insensível.
E essa foi a maior movimentação social da minha vida dos últimos meses, ganhei um atestado médico eterno, que emendou no fim de semana, e fiquei lá dopada, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas. Eu lamento muito por tê-los enganado no título. Supus que ninguém gostaria de ler um texto sobre conjuntivite, daí banquei a malandrinha.
15 comentários:
Não, não engana, não. Você vai enganar nos títulos a partir do momento em que eles forem simples, falarem de coisas bem corriqueiras e (o principal!) quando efetivamente tiverem a ver com o texto.
Isso pode até ter sido real, mas foi bem sessão da tarde. Tirando os gritos à enfermeira: esses davam bem pra cena de filme romeno.
Melhoras.
Eu até falaria algo como "dramática, tsc", mas ter sêmen no olho é algo realmente tenso.
P.S.: Estou esperando ansiosamente pelos comentários revoltados dos punheteiros que caíram/cairão aqui em busca de uma história de estupro.
Cara, adorei o seu senso de humor, uma tragédia dessas vira comédia nas suas mãos!!!!
ah, e a melhor parte não é só o título, "adoro ganhar presentes" foi fodástico ahahahahahhah Uma carga de serotonina!
Vc já está morando em SP?
Adoro seus escritos!!!
Estou em Santa Catarina ainda. Muita tristeza, mas assim que eu conseguir um emprego estou indo.
Gosto tanto da compreensão de vocês diante dos meus textos. Abracitos.
Ela mentiu quando disse que gosta de ganhar presentes.
tá de férias, cão?
Não consigo ler esse texto sem ter ânsia de vômito. Sério. Você sabe que eu não posso com paradas no olho.
Cara, vc é foda!!! Parabéns pelo texto.
Não faço ideia de por que quatro pessoas acharam seu texto uma merda, sério.
Ri muito do "sêmen, biscoito" e da insensibilidade da sua irmã.
Estou seguindo o blog.
A menina pode ter perguntado o «Posso?» por mil razões.
O «posso» pode significar «Dará tempo para eu gravar isso aqui, você me levar em casa e ir para o hospital ver sua mãe moribunda?» Se significar isso, e supondo que a menina more longe de casa, e tenha ido no carro do rapaz (você tem alguma objecção contra isso?), que mal há em ela perguntar para ele?
Enfim, vá se meter na vida da puta que a pariu.
Muito adulto.
Adorando ter encontrado seu blog. Delicia ler você
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