E se ele ficasse pelado na webcam?

Daí eu fico olhando a foto do cara. O problema é que eu passo três horas olhando a foto do cara. Como tomo alguns remédios estimulantes recém lancados no mercado, fico num estado eufórico, faço trezentas coisas ao mesmo tempo, mas quando estou olhando a foto do cara eu nem pisco. Daí começam a escorrer lágrimas dos meus olhos e eu lembro de piscar. Não penso em nada específico, a minha mente passa por milhares de coisas; as duas faculdades, meu estágio, minha mãe e o baile todo, mas quando estou olhando a foto do cara eu vejo o mundo passar em câmera lenta pelos meus olhos. Ali está ele. Eu estou olhando para ele. O meu chefe está falando comigo, a minha mãe está falando comigo, sinto que existem mais pessoas falando comigo. Começo a me perguntar se eu tomei apenas um comprimido. Eu preciso de uma planilha do Excel para controlar minhas medicações. Preciso de um remédio para parar de tomar remédios. Eu deveria terminar esse relatório. Eu fico triste com o relatório. Sem querer fechei a foto. Travou o computador. Minhas mãos começam a tremer. Eu lembro dos prazos, da minha mãe, do meu chefe. Reinicio o computador, abro a foto. Minimizo a foto. Vou trabalhar. Céus, que taquicardia, dizem que esses remédios vão me matar do coração. Eu sei, estou postando no meu blog que esses remédios vão me matar do coração. Eu vim do futuro e disse a mim mesma que vou morrer do coracão. Estou consciente e ainda tenho que reunir forças para admitir a verdade: minha mãe vai ficar uns quarenta dias hospedada na minha casa.