Te chamam de ladrão, bicha, maconheiro: um ensaio sobre o nada

E essa parada de adorar café e amar o solo londrino? Vocês acham que é apenas um clichê no horizonte? Ou vocês acham que não importa se é clichê, pois definir pessoas em categorias é um grandecíssimo vacilo? Eu, Taísa Szabatura, do alto da minha montanha, começo a detestar pessoas que vêem um abismo entre o samba de raiz e o pagode. As nuances de uma intelectualidade sem sentido.
Em algum momento desta caminhada ganhei o estigma de pessoa "inteligente". Se o seu estômago já embrulhou aqui é por que dois pensamentos decerto vieram a sua mente: "ela se acha inteligente" ou o "isso não é importante e essa discussão é irracional". Obviamente que a segunda opção faz mais sentido, mas você irá concordar comigo de que se trata de uma sentença muito ampla.

Aqui é muito fácil cair na conversa sobre o nada. Por exemplo, minha amiga me manda uma mensagem "acho que você não quer mais me ver porque eu só falo sobre moda", daí outra amiga me diz "é difícil ver que seus deuses são humanos" porque eu atrasei o pessoal subindo dez andares só para pegar um brinco. Por quem me tomam? Ou como diria aquela-que-não-deve-ser-nomeada, "Que rei sou eu que não se curva?"

As pessoas estão muito pilhadas em rótulos. Acabei de citar Clarice Lispector numa temática Harry Potter. Estou nem aí. Por exemplo, hoje é feio gostar de Clarice Lispector e Chico Buarque. Todo mundo gosta e tal. É do povo, é intelectual apenas para os novatos ou "eu já passei dessa fase". Eu tenho um preconceito enóóóó-ó-óóóórme pelo Chico escritor. Clarice sempre me deu no saco. E daí? E daí nada. É fantástico saber que isso não muda nada. Esses dias alguém escreveu "Leave Clarice alone" numa releitura daquele fã da Britney Spears. Válido; poucas coisas tiraram tanto riso de dentro do meu corpo. Chico por Chico, fico com o Xico Sá e esse novo livro dele: Chabadabadá. Sérião.

Daí vêm o pessoal da literatura. Eu também faço parte desta turma. Com ressalvas, é bom lembrar. Aliás, antes de argumentar, proponho a questão: Como gostar de literatura, discutir sobre o tema e não parecer um imbecil? Exemplo deplorável: aqueles pimpolhos de 18 anos que dizem que já leram Ulisses. Duas vezes. Outra. "Nossa, Dostoiévsky é muito bom, nossa, muito foda". Tá e aí?

Galerinha deplorável. Geralmente nos primeiros períodos de alguma faculdade de Letras, Jornalismo ou História. Esses aí detestam modismos, Paulo Coelho, Dan Brown, Crepúsculo e afins. Beleza, não entraremos na discussão da qualidade e sim no tom enfático do discurso. Na voracidade com que se sabem superiores pelas coisas que lêem. Bom senso e foco, eis o lema.

Eu, por exemplo, demorei para encontrar alguém que me emprestasse a 'saga' Crepúsculo. Quando caiu na minha mão li rapidamente. E até hoje me pego pensando no livro, principalmente nos assuntos que envolvem menstruação. Se ele não pode ver a humana se cortar e tal, qual era o procedimento durante 'aqueles dias' da sua amada? Nada me tira da cabeça a imagem do vampiro protagonista revirando o lixo da garota e chupando um absorvente interno. Sou muito sem critério.

Então, essa sou eu falando mais uma vez em literatura. Esse lance de intelectualidade sempre me faz pensar. O que a galera espera de você? Como dizer para essas pessoas que O vermelho e o negro do Stendhal que você carrega em baixo do braço não define sua personalidade? E se amanhã você decidir ler outras coisas, ouvir outras coisas, desejar outras coisas? E se eu fizer tudo ao mesmo tempo?

E mais. Ninguém fala sobre intelectualidade. É feio querer ser inteligente. É arrogante ir atrás de certas coisas; tudo é uma grande ofensa neste solo brasileiro. Já não sei como conversar e tenho me rendido aos prazeres de ser uma boa ouvinte. As adoráveis pessoas do "eu". Eu-isso-eu-aquilo é o que mais se acha. Quase nada se encontra livre da vaidade extrema.

A vaidade não precisa ser uma coisa depreciativa; é legal ler, conhecer, argumentar. Conselho: abaixe a orelha. Escute o pessoal. Abra a sua mente para as coisas idiotas e também para as tidas como fodas pra caralho. Eu também estou perdida. E se você é um cara fodão, seja legal com pessoas como eu. Tão raro ver escritores, blogueiros e jornalistas já celebres fora da tradicional fantasia de pau no cu. Tão raro.

Mas eu tenho um sonho.

17 comentários:

borges disse...

Antes do épico final luterkinguico eu já estava com "água nos zóio"...

Acredito no teu sonho, acho que a sinhá já tá quase lá.

Ari Denisson disse...

Olhe, não sou nenhum entusiasta do lifting no samba das antigas. Mas rio-me ao pensar na possibilidade de equiparar uma música do Noel e "A mina de fé", por exemplo.

Quanto à Clarice, ainda acho que o único grande problema (ao qual mesmo poderia a polícia dedicar-se, se nossa legislação fosse mais justa) ocorre quando dá na veneta de alguém IMITÁ-LA!

Isabella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Taísa disse...

A comparação samba de raiz com pagode ficou um tanto equivocada mesmo. Ela surgiu numa conversa informal e eu não soube trazer o comentário para o texto. É verdade, não se compara Noel Rosa com Katinguelê, e eu não sugiro isso; a ideia era atentar para o totalitarismo da opinião etc. Ficou fraco, mas é o que tem pra hoje.

"Sou mulher, e por ser mulher tenho sentidos, tudo nada; a minha intensidade. A vastidão dos meus sentimentos blá blá"

Essa sou eu fazendo textinho chulé-aqui-e-agora imitando a Clarice. Exercício potente que deveria ser praticado por todos.

Abraços!

Isabella disse...

Sem rasgações de seda: suas discussões são válidas.
É, mesmo sem comentar, acompanho seu blog.

Phillip disse...

Incrível como depois de um senhor hiato sem ler teu blog teu texto melhorou (muito).

Depois que um dos meus professores (o coordenador do curso pra ser exato) apresentou em um congresso um ensaio sobre Crepúsculo acho que todo mundo perdeu esse medo de falar de qualquer coisa no meio em que convivo (sabes qual).

Agora tem todo um movimento Penetras Bom de Bico é obra-prima.

Hahaha

PS: apareça no boteco, não sei por onde diabo andas.

Tamara disse...

Bom, como EU estava na discussão e como EU falei sobre a babaquice de "acho Cartola foda, mas não sei nem onde ficar o Morro da Mangueira", acho legal opinar.

Acho que a e questão aqui é sobre significados. Hoje em dia, foi instituído que samba de raiz é foda e pagode é uma merda. E o povo gado segue nessa direção de "sou cult, escuto Noel." Quando, na verdade, essa pessoa NEM SABE o que Noel representou para o samba brasileiro. É igual você colar uma reprodução de da Vinci na parede, se achar inteligente pra caralho e nem saber que o cara era italiano. Sabe Indústria Cultural? Está acontecendo com aquelas pessoas que se dizem fodas.

Se você não foi criado dentro de uma cultura sambista, não escute Cartola só porque te falaram que é legal. Escute Katinguelê porque vai ficar bem melhor para você.

Ah, não é questão de comparação. Não é melhor ou pior. É o que é bom para você, ué.

E eu escuto Katinguelê. E Belo. E Cartola. Muito.

Beijos

Ari Denisson disse...

É, expressei-me mal inzagerei. A questão mais complicada, pra mim, não é imitações de Clarice (ri com o "tudo nada"), mas as "Clarices apócrifas", do tipo "Gosto dos venenos mais lentos etc., eu adoro voar!". Quem quiser abrir uma igreja com os textos dela vai ter chão pela frente.

Realmente entendi o comentário sobre samba de raiz; é minha mania feia de testar os argumentos alheios. E faz sentido: nesse ritmo não dou uns vinte e cinco anos pra Psirico virar cult.

Tamara disse...

Ai gente, desconsidere meus erros de português. Vou jogar meus diplomas de Letras e Jornalismo no lixo. Mamãe sente orgulho!

Ari Denisson disse...

Ah,

Se eu encontrasse na minha frente um(a) sujeito/a de 18 anos que já tivesse lido "Ulisses" duas vezes, eu corria as léguas. Sabe-se lá do que uma pessoa dessas é capaz.

Isabella disse...

Desde que tenha consciência da qualidade do que é consumido, por que não?

Szabatura, sinto-me uma intrusa aqui, ao entrar sem bater.

Chute-me ou acolha-me

Isabella disse...

Me referi aos comentários vindos antes de "Ulisses".

Sílvia Mendes disse...

samba de raiz o meu pau.

Taísa disse...

Isabella, como diria o outro, entre e fique a vontade.

desconhecido autor disse...

Texto longo, hein? Esqueci o que eu iria comentar várias vezes. Sabe como é, 'maconha mata os neurônios'.

Eu gosto do Chico - o Buarque. O Sá, eu acho uma bela jogada pra se aproveitar dos sulistas que não manjam nada da malemolência nordestina - não a do Tom Cavalcante, please.

'Estorvo' é um livro que gosto muito. O resto foda-se. Chico bom é Chico cruel. E ele sabe ser bem mau quando quer.

(esqueci de novo...)

Uma vez escrevi 'Clarisse' aqui e me zoaram. Isso mostra bem o tipo de cuzão que dá por aqui. Eu num sou íntimo da velha, foda-se ela e os vermes que há muito comeram sua carne verde, manja? Deixa a tia em paz.

Eu não li o livro - não leio um tem algum tempo, vai parar de falar comigo? - mas assisti 'Crepúsculo' e pensei o mesmo lance da menstruação. Meus amigos tiveram que me aguentar bêbado batendo nessa tecla. Na verdade, eu pensei até que o lance da menstruação poderia ajudar os dois, se é que vc me entende.

De resto, gente pau no cu tem pra dar e vender, aqui e em qualquer canto dessa internerd de merda. Não durariam um hound comigo.

Não tenho tolerado nada e ninguém que não respeita meu espaço e o próprio. Trombo com móveis e egos avantajados. O que passar é rasteira.

Vivo bem assim. Mas não vou cagar regra aqui. Cada um na sua - como dizia a propagrando do Free.

Texto grande comentário idem. 'Se bata aí.'

Chêro.

Taísa disse...

Ótima observação sobre menstruação na temática do sexo oral. Já cogito reescrever crepúsculo numa temática pornô. Ficarei rica.

"Não tenho tolerado nada e ninguém que não respeita meu espaço e o próprio. Trombo com móveis e egos avantajados. O que passar é rasteira."

Mandou bem, hein.

Unknown disse...

http://acovadeclarice.tumblr.com/