Escrever um livro é um saco. Você oscila entre risos histéricos diante da sua falta de talento ou entre pequenas confirmações com o pescoço que querem dizer "não ficou tão mal assim". Sempre participei daquela ala de escritores que não escrevem e criticam qualquer ser humano que ousa achar que tem o direito de publicar qualquer coisa. Juro que não sei de onde vem tanto azedume; decerto sou apenas mesquinha.
As problemáticas de se escrever um romance são muitas; você inicia bem, cheio de ideias, já imaginando o Jabuti nas mãos, mas lá pela quinquagésima nona página do Word, Times New Romam, corpo 12, espaçamento duplo, alinhamento justificado, você percebe que não é o Milan Kundera e as coisas complicam. Você começa a falar sozinho; "Porra, teu personagem não teve infância?" ou "É absurdamente ridículo a mãe da garota ter morrido de complicações de uma lipoaspiração, Taísa do céu, use a razão."
O hábito de falar sozinho e ler o seu texto em voz alta são ótimas formas de avaliar a grande merda que você está escrevendo. O pior é se te perguntam o que você está fazendo e num momento inexplicável de bondade você resolve confessar: estou escrevendo um romance. Daí é claro que o palhação que puxou o assunto vai querer saber do que se trata e você querendo parecer um grande sociólogo, cruzará as pernas, dará uma baforada no cigarro, e dirá:
- Veja, é difícil dizer, pensei em fazer algo como um fluxo de pensamento pós-moderno, englobando novas técnicas de se escrever; um sarcasmo alí outro acolá. Estou em dúvida se o narrador será onipresente... ahn? Não, não, o Vaticano vai ficar de fora, não, lamento, mas Maria Madalena não é o nome de umas personagens, mas talvez fique legal do jeito que estou fazendo né?
- Olha só, justo você escrevendo um romance, achei que não era do seu tipo essas coisas melosas...
Sim, você entra na questão de seu ouvinte não ter a menor noção de literatura. O fato dele dizer ter lido Ulisses duas vezes é meramente ilustrativo. Amigos, colegas de trabalho, pessoas por quem tenho uma leve estima; nessas horas não explique nada; fale do tempo, das chuvas em Santa Catarina, na morte do Patrick Swayze que eu acabei de saber através do Twitter, mas não vá no papinho da Teoria Literária. Com animais o máximo que você pode fazer é dar ração. Ok, eu não sei de nada, sou um eterno aprendiz e aquelas coisas clichês, mas se nesse momento eu estivesse no leito de morte, com um último suspiro para ser dado eu diria: "NÃO DISCUTA LITERATURA COM PESSOAS QUE AMAM LER".
Estou muito ativa, não consigo parar de falar, tomei muito café, arranjei um estágio, paquero constantemente um menino do ônibus que é uns 20 cm menor do que eu. Também ganhei a aprovação geral dos conhecidos quanto a cor do meu cabelo, mas voltemos a literatura; lembrei de um diálogo imperdível que ouvi de uma imbecil que estudava comigo; foi algo mais ou menos assim: era uma aula experimental de Telejornalismo e o assunto era o publico leitor e etc., "Os jovens gostam de ler?" dentre outros lugares comuns cretinos, a colega entrevistada chega e responde a pergunta óbvia do repórter acéfalo:
- Eu amo ler, gosto muito mesmo, vivo na biblioteca. Mas eu não gosto de romances sabe, tipo Shakespeare e essas coisas. Gosto de histórias de traição e livros com velocidade.
Sério, relaxe, mude a posição na qual você está sentado, respire, inspire e reflita sobre esta nobre fala. Se existem pessoas que querem ganhar na megasena eu só quero que o professor passe aquele "teipe" novamente. Eu tenho a esperança de ter ouvido errado.
-Taísa, desculpe-me, mas sou ignorante e não entendi a sua piadinha. Tudo bem, eu também não sou perfeita e socada de conhecimento, mas sou adepta do "acho melhor não falar merda". Será que eu entro nas vastíssima discussão sobre o que Shakespeare representa para toda a história, não só da literatura, mas do universo e das galáxias como um todo? Ainda temos tempo? Melhor não, mas tenho certeza que a entrevistada nunca leu Otelo.
12 comentários:
Quero o primeiro exemplar de recordação.
Estou apenas com medo que passe um furacão de vez por aqui com esse seu surto de atividades. hahaha
vai na aula amanhã?
É amostrada por demais, mas tem seus momentos.
Acho que 97% dos livros que se empoeiram ou não em estantes de livrarias, supermercados, bancas e postos de gasolina são ruins.
Imagina a quantidade de sub-literatura consumida diariamente por quem procura livros na sessão de mais vendidos em publicações da imprensa marrom do nosso querido brasil-sil-sil.
O que você está escrevendeo nem deve ser tão ruim. Tudo é uma questão de 'golpe de vista'...
só sei que eu leria. É difícil não ser cretino e dizer a verdade: a sinhá vai longe.
Please, não pare os passos, dotora. Parece que alguma conjunção astral de marte com alguma lua tem beneficiado boas coisas pra quem passou mal nos últimos tempos. O jeito é aproveitar a maré.
E tente não abandonar esse lugar aqui. Afinal, sem isso não posso me gabar de ter acompanhado a celebridade desde o início. lol.
té.
beigos.
Por questões éticas e morais eu não vou resenhar seu livro nunca. Misturaria demais a trama do texto com lembranças de você caindo de bêdada no Djunn.
O Patrick Swayze morreu?!!? Oh, god! Vou lá assistir Dirty Dancing pela milionésima segunda vez e meia e chorar a sua morte...
Poxa, eu sempre quis dar pra ele. Acho que agora não terei mais essa possibilidade.
Oh!
Ainda acho que o trovadorismo vai dominar o mundo.
Quem não se emocionaria com este relato escrito em galego-português?
"Mea parva! Foste-vos a parlar;
De merda e livros nunca'stás a diferenciar;
Ai de mi! Vedes como quero ti zoar;
Dona parva, no ... vos ides a tomar!"
Sucesso total! Quando der um branco, só apelar às trovas, um "romance trovadoresco". Quer coisa mais pós-moderna do que isso?
Ótimo texto linkado pela cherrie Larissa Guerra: http://diplo.uol.com.br/2008-03,a2253
Vale ler.
Já falei do meu amor por Patrick, né? Amo! Forever no meu esse dois!
E é por isso que tenho amor próprio e não discuto literatura com pessoas que entendem do assunto. Prefiro ficar mesmo no campo do "vou-te-ensinar-a-ser-tchutchuca-e-dançar-como-vadia". Disso eu entendo!
Qué isso menina! Se não fosse você e a Sílvia eu estaria refazendo todas as matérias do quinto período. Já funk você nunca teve a decência de me ensinar...
Com essa transcrição da fala da menina que "não gosta de romance tipo Shakespeare", você me fez lembrar uma enquete feita há anos aqui em Maceió por um programa jornalístico de mundo-cão (feliz produto das cidades nordestinas com altos índices de criminalidade, desses que são veiculados na hora do almoço e mostram cadáveres): "Você se considera uma pessoa heterossexual assumida?", ao que muitos homens respondiam "Ô, rapaz, tá me estranhando?".
Ah, se eu encontrasse alguém que leu "Ulisses" duas vezes (com exceção de algumas professoras que eu tive), não teria coragem de discutir nem sobre coisas de comuns mortais, quem dirá sobre literatura.
A Tamara ganhou o jogo pesado aqui. Tô com essa guria e não abro.
Escrever pra quê?!
Ma che cazzo!!! Não posta mais Xabs!!??
Postar um comentário